A Sociedade 12 de Outubro, banda filarmônica popularmente conhecida como Saboeira, foi fundada em 27 de novembro de 1849, em Goiana, Pernambuco, e é uma das primeiras bandas de música do estado. Em Pernambuco, essas sociedades musicais exercem papel fundamental na cultura dos municípios e das cidades, nos eventos cívicos, políticos e sociais. No Estado, além da Saboeira, quatro outras bandas filarmônicas são registradas como Patrimônio Vivo, o que reforça a importância cultural que essas agremiações possuem para a região. São elas: Revoltosa, Sociedade Musical Curica, Sociedade Musical Euterpina Juvenil Nazarena e Sociedade Musical XV de Novembro.
A origem do nome da centenária Sociedade é incerta. Há duas versões presentes na memória do grupo. Uma, referente ao fato de que, nos primeiros anos de sua fundação, os músicos, preocupados em estarem bem vestidos, lavavam seus trajes com frequência e esmero, e, por essa razão, os adversários que integravam a Curica, os chamavam de “saboeiros”. A segunda versão, mais difundida e aceita, é contada por Mestre Biloco, antigo membro da Saboeira, no documentário “Banda Saboeira a história que nos contam”: “Nessa praça aqui, do Carmo, tinha um riacho que tinha um pé de saboeiro, e a orquestra quando ensaiava, na beira do riacho, quando faziam as tocadas, que as mulheres iam lavar a roupa, era com a folha dessa árvore, ai nasceu a inspiração para o nome Saboeira”. O fruto do saboeiro possui saponina, substância com propriedades similares às do sabão, que produz espuma quando friccionado e teria inspirado a banda.
A primeira notícia de que se tem registro documental sobre a Saboeira remonta a sua participação no funeral de um importante membro do Partido Liberal, do qual também fazia parte o desembargador Nunes Machado, um dos chefes da Revolução Praieira de 1848. A qualidade musical da Saboeira e a boa recepção alcançada junto ao público pernambucano pode ser conferida no fato de que, apenas 10 anos após sua fundação, recepcionou o Imperador Dom Pedro II em visita à Goiana, em 6 de dezembro de 1859. Por volta desse período, instalou-se uma rivalidade entre as reconhecidas bandas filarmônicas: a decana Curica, fundada em 1848, e a Saboeira. Disputa que se desdobrava no campo político uma vez que a Saboeira era ligada ao Partido Liberal, ao passo que a Curica possuía vínculos com o Partido Conservador. Em “Crônicas goianienses” (1978, p.70), Mário Rodrigues Nascimento nos relata que: “não raro, as retretas, ou seja, apresentação de bandas de música, geralmente em praça pública e festejos religiosos onde se exibiam, as orquestras acabavam debaixo de correrias e tiros, em decorrência de brigas entre grupos e etnias rivais”. Nessa época, cada banda possuía um “grito de guerra”, e o da Saboeira se chamava “Espanhola”, em homenagem a Manoel Espanhol, entusiasta da banda. O embate entre os grupos prosseguiu por décadas, a exemplo do período em que Eurico Gaspar Dutra (1946-1961) assumiu a presidência do Brasil, quando a Curica apoiou a União Democrática Nacional – UDN, e a Saboeira, o Partido Social Democrático.
Como muitas das filarmônicas foram criadas para atender a um determinado segmento da sociedade, como aos partidos políticos imperiais, por quem eram custeadas, ao final do século XIX, a Saboeira passou por alguns momentos difíceis. Em 1886, Francisco Tavares de Melo assumiu a direção da Saboeira e a manteve com seus próprios recursos, juntamente com alguns filiados do Partido Liberal. Já no início do século XX, mais especificamente em outubro de 1908, um dos seus sócios mais relevantes, José Pinto de Abreu, organizou uma sociedade a qual era mantida com a ajuda mensal dos sócios filiados. A partir de então, criou-se a Sociedade 12 de Outubro, que assumiu a manutenção da Saboeira. Essa iniciativa contribuiu para que a banda pudesse dar continuidade as suas atividades com mais garantia e atuasse com certa estabilidade. Durante a Revolução de 1930, a Saboeira ficou sob liderança de um dos seus grandes incentivadores, o prefeito de Goiana à época, Serafim Luiz Pessoa de Mello. Em 1939, foi construída uma nova sede para a banda, que contou, inclusive, com ajuda de Agamenon Magalhães, então interventor federal de Pernambuco (1937-1945), e do ex-governador Barbosa Lima Sobrinho. Desde então, segue em atividades ininterruptas, seja em eventos festivos e religiosos, seja enquanto escola de música.
A Saboeira participou de diversos concursos, tendo conquistado vários prêmios, dentre os quais, o primeiro lugar em um concurso promovido pela Argus Industrial de São Paulo. Como é comum entre as filarmônicas, a Saboeira possui, em sua sede, um espaço de aprendizagem musical e musicalização, com atividades socioeducativas e práticas. O objetivo é despertar, nas crianças e jovens, o gosto pela música e desenvolver o conhecimento musical juntamente com atividades de formação cidadã e humanista. A Saboeira já formou músicos de renome em todo estado, como Capitão Zuzinha, Maestro Duda (Patrimônio Vivo de Pernambuco), Mário Guedes Peixoto e Beetholven Cunha. Por meio dessa ação formadora na qual são preparados novos músicos e onde se estimula a criação musical, as bandas de música resistem, se reinventam e se renovam.