Fotos: Jarbas Araújo/Alepe
Centenas de trabalhadores ligados à pesca artesanal reivindicaram, na terça (3), providências concretas capazes de reduzir os danos do derramamento de petróleo no litoral pernambucano para as comunidades que sobrevivem da atividade. Em audiência pública promovida pela Comissão de Cidadania, eles reclamaram da falta de segurança sobre o consumo dos pescados e da paralisação das vendas.
Representante do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais e presidente da Colônia Z-14, em Goiana (Região Metropolitana do Recife), Ângela Fonseca relatou a situação enfrentada desde que as manchas começaram a aparecer. “A gente não está podendo mais comprar alimentação suficiente. Nós somos pescadores, não miseráveis, mas já estamos virando, porque cortaram nossa internet e estamos sem bujão de gás para cozinhar, usando lenha”, contou. “O petróleo não chegou em Goiana, mas o impacto sim, e estamos sofrendo” , disse.
A procura por produtos como mariscos, sururu, ostras e caranguejo caiu mais de 90%, de acordo com levantamento feito pelo Fórum SOS Mar, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor do Departamento de Sociologia da instituição, o pesquisador Cristiano Ramalho alerta para a “paralisação de toda uma cadeia produtiva que envolve não apenas os pescadores, mas pequenos comerciantes, como atravessadores e vendedores de praia”.
A falta de alternativa leva ao consumo dos pescados pelos próprios trabalhadores – um risco à saúde, na avaliação da pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Aidê Gurgel. “Além da contaminação aguda, como os 149 casos de pessoas que tiveram contato com os resíduos e apresentaram desde náuseas até pneumonia química, há potencial para o desenvolvimento de doenças crônicas”, informou a especialista.
A secretária-executiva de Meio Ambiente, Inamara Melo, disse que o Governo do Estado vem cobrando providências da União – que tem competência para atuar no caso de desastres ambientais de origem não identificada –, e pediu aos movimentos que façam pressão política para incluir trabalhadores sem o registro de pescador profissional na Medida Provisória nº 908/2019, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro, que cria um auxílio emergencial.
A gestora estadual rebateu críticas de omissão. “O Governo de Pernambuco tem sido absolutamente ativo desde o primeiro instante. Tiramos mais de 1,6 mil toneladas de petróleo cru das nossas praias, dando a destinação correta, por meio da contratação de duas empresas de gerenciamento de resíduos perigosos”, disse Inamara Melo. “Também fizemos o lançamento, por meio da Facepe (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado), de um edital de R$ 2,5 milhões”, acrescentou. O monitoramento das praias e o cadastramento de pescadores foram outras ações apontadas pela secretária.
Presidente da Comissão de Cidadania, a deputada Jô Cavalcanti, das Juntas (PSOL), afirmou que o colegiado acompanhará, nesta tarde, a ida da comitiva de pescadores e marisqueiros ao Palácio do Campo das Princesas, sede do Poder Executivo, a fim de entregar um documento com as reivindicações do segmento. “Estamos tentando entrar em contato com algum secretário que possa nos atender e encaminhar a pauta, mas isso depende muito da vontade política do Governo”, assinalou.