Sem as Unidades Pernambucanas de Atenção Especializada, populações de Carpina, Goiana e Escada precisam se deslocar a outros hospitais ou ao Recife em busca de atendimento.
Nos lugares onde deveriam funcionar Unidades Pernambucanas de Atenção Especializada (UPAEs), as populações de Carpina, Goiana e Escada encontram construções inacabadas, fazendo com que a esperança de ter um posto de saúde perto de casa dê lugar à frustração por continuar enfrentando longas distâncias para ir a hospitais. Nos três municípios, as construções dos postos estão abandonadas (veja vídeo acima).
De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado, outras obras de unidades de saúde foram priorizadas e, nos três municípios, a previsão é de que a entrega das UPAEs seja feita no primeiro semestre de 2020 (veja resposta abaixo).
Em Goiana, o prédio foi construído numa área com o tamanho de um campo de futebol no Loteamento Novo Horizonte, às margens da PE-75. A localização é estratégica e, caso funcionasse, a unidade de saúde atenderia moradores do município e de cidades como Itaquitinga, Aliança, Condado, Machados e Vicência.
“Eu quero saber por que não abre e a gente aqui sofrendo. O hospital de Goiana está lotado, aí mandam para o Recife. Eu acho que isso aqui é uma vergonha, porque já deveria estar aberto há muito tempo”, contou o agricultor Antônio Paulo da Silva, de 86 anos, que mora no município e passa pelo prédio abandonado todos os dias.
Feita pelo grupo FCA-Jeep, a construção da UPA foi uma contrapartida ao governo de Pernambuco, já que o grupo automotivo recebeu benefícios para ter a fábrica no município.
“Esse prédio está pronto desde maio de 2015. São quatro anos com as portas fechadas. Nossa cidade de Goiana está à mercê de uma situação que já poderia ter sido resolvida”, disse o instrutor de autoescola Sandorelhe Bernardo Soares.
No Centro da cidade, na saída do Hospital Belarmino Correia, não é difícil encontrar pessoas que não conseguem atendimento. É o caso da aposentada Maria José Borges dos Santos, de 81 anos, que não conseguiu exames de raio-X na unidade de saúde.
“Minha mãe está doente faz dias, mas não tem raio-X. Eu passei por um médico e tive que pagar R$ 100 na clínica particular”, afirma a filha da aposentada a comerciante Xarlene Borges.
Escada
Na Zona da Mata, a situação é semelhante. No município de Escada, a UPAE, fechada, tem seguranças em frente ao prédio para evitar invasões.
De acordo com o Tribunal de Contas do Estado (TCE), a construção começou em 2014 e deveria terminar em 180 dias, o equivalente a seis meses. Cinco anos se passaram e, mesmo sem ter sido inaugurada, a unidade de saúde já parece velha.
Dos R$ 9,5 milhões do contrato, foram gastos R$ 5,6 milhões, segundo o TCE. O dinheiro não foi bem investido, já que, com a obra parada, toda a estrutura está se estragando.
Durante a visita da reportagem da TV Globo, um funcionário do governo de Pernambuco apareceu para verificar a obra inacabada. “O estado vai retomar as obras. Estavam com a Secretaria de Saúde e agora estão com o GAP [Gabinete de Projetos Estratégicos]”, disse o engenheiro Ubiraci Pereira.
Enquanto a obra não é retomada, a cobrança dos moradores continua. “Isso revolta porque a gente só escuta promessa. O dinheiro está indo para onde? [Quando preciso de médico], chamo um vizinho, levo para a beira da pista e vou para o Cabo de Santo Agostinho. São 39 quilômetros”, contou o tratorista José Honório da Costa Júnior.
Técnica em enfermagem desempregada, Maria Célia da Silva mora perto da UPAE e tem dupla reclamação, pela falta de atendimento médico e de oportunidade de trabalho no local. “Quando a gente procura [médico], não tem. E o dinheiro sendo jogado fora. Se estivesse pronta, eu poderia hoje estar trabalhando na minha cidade, atendendo a minha comunidade”, afirmou.
Carpina
Em Carpina, também na Zona da Mata, outra UPAE está fechada às margens da BR-408. São, ao todo, 2 mil metros quadrados, distribuídos em áreas para ambulatórios, 13 consultórios, setor de diagnósticos e terapias.
Segundo o TCE, a expectativa do governo era beneficiar mais de 250 mil moradores de Carpina, Buenos Aires, Lagoa de Itaenga, Lagoa do Carro, Nazaré da Mata, Paudalho, Tracunhaém e Vicência. A unidade também teria capacidade anual de realizar 79 mil consultas em oito especialidades, entre elas cardiologia, dermatologia e oftalmologia.
Morando numa casa vizinha ao prédio da UPAE, a aposentada Maria do Carmo Bezerra tem problemas de visão e, em todas as vezes que precisa de atendimento médico, tem que ir ao Recife. “Faz seis anos que eu moro aqui. Não são seis dias. Para ir ao Recife, tem que pegar um ônibus de 4h30”, afirmou.
De acordo com o TCE, a obra está parada desde 2015. O prazo inicial era de seis meses e o investimento total era de R$ 8,5 milhões. Foram gastos R$ 5,2 milhões.
“Os governantes não estão ligando para nada. Quando eu preciso de um médico, para a pessoa entrar na lista de espera, é melhor morrer em casa mesmo. Eu faço meu remédio em casa, no mato, e tomo”, afirmou o aposentado Luiz Antônio de Santana.
Governo responde
De acordo com o secretário-executivo de finanças e administração da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Adelino Neto, o governo do estado está na fase de compra de equipamentos e do mobiliário da unidade de saúde em Goiana. "A gente estima um investimento de aproximadamente R$ 4,5 milhões. No primeiro semestre de 2020, a unidade vai ser entregue à população", afirmou.
Em relação às UPAEs de Carpina e Escada, as obras precisaram ser paralisadas devido a problemas com a construtora, segundo Neto. "A SES fez o trâmite de retomada da obra, fez uma auditoria e apuração de saldo remanescente", informou. Para os dois municípios, a previsão é de que as unidades sejam entregues no primeiro semestre de 2021.
Segundo o representante da SES, há um calendário de priorização das obras que fez com que outras unidades de saúde fossem inauguradas antes das UPAEs desses três municípios.
"Em 2017, entregamos a UPAE de Ouricuri; em 2018 entregamos a UPAE de Abreu e Lima e o Hospital São Sebastião, em Caruaru. Entregamos mais recentemente a emergência do Getúlio Vargas e retomamos a obra do ambulatório do Hospital Agamenon Magalhães [no Recife]. Estamos com uma obra a pleno vapor no Hospital do Sertão, em Serra Talhada. Existe um calendário de priorização e um compromisso de entregar todas as obras nos quatro anos de mandato", explicou.