Caso gerou troca de acusações entre gestores de saúde de cidades vizinhas, em Pernambuco. Mulher estava grávida de gêmeos e segundo bebê nasceu na sala de parto.
Um vídeo feito por um médico que registrou com celular um parto realizado em uma cadeira de rodas na entrada de um hospital provocou a troca de acusações entre gestores de saúde de cidades vizinhas em Pernambuco. No vídeo, o profissional reclama da demora no atendimento, não participa do procedimento de emergência e ainda pede ajuda ao motorista da ambulância. (Veja reportagem da TV Globo abaixo)
Diante da conduta do médico, identificado como William Flávio Santinoni, a direção do Hospital Belarmino Correia informou que entrará com uma representação no Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe).
A unidade também questiona o fato de o profissional, que atua na Maternidade João Pereira de Andrade, em Condado, ter feito a transferência sem aviso prévio ou envio de documentação necessária.
“Ele, em nenhum momento, chega junto da paciente, e não havia guia de transferência. Além disso, a mulher relatou que não foi examinada em Condado. Se fosse médico do meu plantão, responderia pela atitude”, declara a diretora do Belarmino Correia, Flávia Magno.
A secretaria de Saúde de Condado, por meio de nota, apontou “negligência” do hospital de Goiana. A administração municipal também disse que também vai levar o caso ao Conselho de Medicina. “É notória a negligência do hospital, fato esse que será levado ao Cremepe aos demais órgãos responsáveis”, diz a nota.
O governo aponta que é “preciso que os gestores municipais efetivem o pré-natal de qualidade e a garantam da realização do parto de risco habitual em seus territórios”.
O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) esclarece, por meio de nota, que "recebeu a informação sobre o caso e abrirá um expediente para apurar os fatos". Conselho diz, ainda, que a investigação corre sob sigilo processual.
O G1 entrou em contato com o médico pelo celular, mas ele não atendeu.
Atendimento
Mesmo com polêmica sobre o vídeo e a conduta do médico, o procedimento de emergência ocorreu com sucesso. Missilene teve um dos bebês de forma improvisada, na cadeira de rodas, e o outro nasceu na sala de parto do hospital. Segundo a unidade, todos passam bem, apesar de uma pequena infecção apresentada pela mãe.
Esta foi a nona gestação de Missilene, que preferiu não conceder entrevista. O bebê que nasceu na cadeira de rodas ganhou o nome de Andrei. Ele é o nono filho da mulher, que resolveu chamar a menina, que veio ao mundo minutos depois, de Andrielle.
“Eles devem ter alta em até dez dias”, afirma o diretor médico do hospital de Goiana, Roberto Almeida.
Imagens
O parto de um dos gêmeos foi filmado por dois ângulos diferentes. Existem imagens produzidas pelo médico e um conteúdo gravado pelo circuito de segurança do hospital de Goiana.
No vídeo feito pelo médico é possível acompanhar o momento em que a gestante chega à unidade praticamente dando à luz. O profissional diz que chegou ao local e está esperando pela equipe da unidade.
“Vai nascer aqui no chão. Faz sete minutos que eu cheguei aqui e o médico não apareceu ainda. A secretária quer fazer ficha em emergência obstétrica. Não sei o que tem na cabeça. A famosa Goiana”, afirma o médico, enquanto filma o parto.
O vídeo mostra também uma enfermeira e uma técnica ajudando no parto. Missilene grita e conta com apoio das duas profissionais.
Nas imagens do circuito de segurança do hospital o caso é registrado de uma maneira diferente. Dois minutos depois de o médio falar com a recepcionista, a gestante aparece nas imagens, na cadeira de rodas. Em seguida, o primeiro bebê começa a nascer e o profissional passa a registrar as cenas com o celular.
Oito minutos se passam e a médica de plantão chega ao hospital. Ela presta os primeiros socorros e leva a gestante para a sala de parto.
Justificativa
A secretaria de Saúde de Condado informou que a maternidade da cidade não tem capacidade para fazer partos com possíveis complicações. A coordenadora de enfermagem da unidade, Simony Fernandes, afirma que era um caso de gêmeos e, por isso, foi necessário fazer a transferência.
“ Foi uma emergência e não deu tempo de fazer a regulação, de enviar a senha para o outro hospital. O médico encaminhou para o hospital especializado mais perto”, afirma.
G1