25 fevereiro 2019

Frustração e Decepção: Goiana ainda à espera dos benefícios de integrar a Região Metropolitana do Recife

Goiana é atendida por uma única empresa de ônibus – Rodotur – e tem tarifa de R$ 12 até o Recife.

Frustração e decepção. Um ano depois de passar a integrar a Região Metropolitana do Recife, os moradores de Goiana, município que fazia parte da Zona da Mata Norte de Pernambuco, continuam à espera dos benefícios prometidos. Entre eles, o maior e mais desejado de todos: a ampliação do serviço de transporte público. A expectativa criada em dezembro de 2017, quando a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) aprovou a inclusão do município no Grande Recife, não se confirmou. Ao contrário, apesar de um ano de espera. Segundo informações da prefeitura, além de não ganhar, o município tem perdido alguns serviços de segurança pública por não ser mais uma cidade de interior.
A desconfiança de muitos moradores em janeiro de 2018, quando o JC esteve na cidade para falar da expectativa com a mudança, virou mágoa. O sentimento de que um futuro melhor se desenhava para a cidade e seus habitantes está sendo deixado de lado por muitos. A melhoria da mobilidade urbana – especialmente a oferta de transporte público –, a capacidade em obter linhas nacionais de crédito e a preservação do amplo ecossistema municipal eram algumas das possibilidades esperadas. Uma espera de 20 anos com pelo menos duas gestões municipais tentando viabilizá-la. Mas nada se confirmou. Nada.
“Nosso sentimento é de frustração. A principal expectativa que criamos não se confirmou. Acreditávamos que, com a entrada na Região Metropolitana do Recife, passaríamos a ter mais linhas de ônibus para o Recife, com intervalos menores e, principalmente, com valores mais acessíveis. O custo com o transporte público pesa muito no bolso da população. Mas até agora, tanto tempo depois, nada aconteceu”, desabafou o secretário de Segurança Cidadã, Trânsito e Transporte Urbano de Goiana, Ramon Aranha.
Goiana, inclusive, se preparou para receber a ampliação do serviço por ônibus, com a sinalização de cinco ruas e implantação de binários (ruas de mão única paralelas e com sentidos contrários). Foram gastos, até agora, R$ 120 mil de recursos municipais. No total, serão R$ 500 mil. Tudo para facilitar a circulação do transporte público – cuja ampliação é o maior de todos os desejos dos moradores. Depender de ônibus no município é algo injusto. Não só pelos longos intervalos – de pelo menos 1h – e poucas opções de linhas, mas principalmente pelo valor: R$ 12 a tarifa até o Recife, por exemplo. Um valor que exclui socialmente qualquer morador da cidade. Uma tarifa que fecha portas ao mercado de trabalho, afinal qual trabalhador ou empregador consegue bancar um custo diário de transporte R$ 24?
ESTUDANTES SÃO OS MAIS PREJUDICADOS

Os moradores de Goiana que precisam estudar fora são os mais prejudicados com a lenta integração da cidade à Região Metropolitana do Recife. Sem opção de transporte, precisam pagar o deslocamento por fora, o que é difícil para muitos. Segundo dados do município, 600 jovens universitários saem todos os dias da cidade para estudar no Recife. Além da dificuldade para custear o transporte – mais de R$ 200 por mês –, os jovens ainda enfrentam os riscos de viajar em veículos fretados, sem a mesma segurança de um sistema de transporte regulamentado e gerenciado pelo poder público.
GOVERNO DE PERNAMBUCO AINDA SEM RESPOSTAS OU PRAZOS PARA GOIANA

O governo de Pernambuco, por meio do Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT), gestor do Sistema de Transporte Público de Passageiros da RMR (STPP), garante estar debruçado sobre estudos para ampliar a oferta de ônibus em Goiana e, principalmente, introduzi-la no STPP, o que inclui a integração tarifária. Mas não dá previsão de quando as mudanças vão acontecer. Nenhuma.

Por nota, o Consórcio explica que um levantamento preliminar identificou algumas particularidades no transporte de passageiros e nos usuários que fazem o trajeto Goiana-Recife que precisam ser discutidas. É o caso, por exemplo, da baixa demanda de usuários saindo do município com destino à capital: apenas dois mil passageiros/dia. Outra dificuldade apontada pelo Consórcio é o fato de a maioria desses passageiros serem comerciantes, ou seja, pessoas que viajam com mercadorias para vender no Recife, o que hoje é feito sem problemas porque os ônibus da Rodotur – a única operadora em Goiana – são rodoviários e têm bagageiro.

“Para isso, seria necessário veículos diferenciados. Também existe a questão tarifária, pois atualmente o transporte intermunicipal realizado por ônibus rodoviários cobra tarifa por trecho”, diz a nota oficial. O GRCT pondera, ainda, que para avançar nessas questões está restabelecendo um diálogo com a Prefeitura de Goiana para que o órgão seja subsidiado com informações sobre o transporte público local. E que a pesquisa de origem/destino coordenada pela Prefeitura do Recife, através do Instituto Pelópidas Silveira, em parceria com o GRCT, vai ajudar. “Estamos buscando uma alternativa viável e que atenda à demanda dos usuários de Goiana. Contudo, como o trabalho envolve outros órgãos, ainda não existe um prazo definido”, finaliza a nota.

 
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