Jayse Ferreira ensina educação artística em Itambé, na Zona da Mata Norte de Pernambuco. Ele concorre a um prêmio que é considerado o "Nobel" da educação.
Um professor de Itambé, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, está na lista dos 50 melhores educadores do mundo. Ele concorre a um prêmio considerado o "Nobel" da educação. Jayse Ferreira ensina educação artística e dedica a vida à sala de aula desde 2008, na Escola de Referencia em Ensino Médio Frei Orlando. (Veja vídeo acima)
A dedicação do professor o rendeu o prêmio Professores do Brasil, do Ministério da Educação, por duas vezes, em 2014 e em 2017. O nome dele também está na lista dos 50 melhores educadores do mundo, que concorrem ao prêmio “Global Teacher Prize”. Apenas dois brasileiros estão na lista: Jayse e uma professora de São Paulo.
Na terça-feira (18), Jayse Ferreira foi recebido pelo governador Paulo Câmara (PSB) e pelo secretário de educação, Fred Amâncio, no Palácio do Campo das Princesas, Centro do Recife, como reconhecimento do trabalho que faz em sala de aula.
Itambé fica a 77 quilômetros de distância do Recife, na divisa com o estado da Paraíba. Foi nessa região onde nasceu e cresceu Jayse, que sempre viu na educação uma forma de mudar o mundo. Formado desde 2006, ele ensina a 450 alunos, com idades entre 14 e 18 anos.
Na sala de aula, tudo é conversado e discutido junto com Jayse. Conhecer e valorizar a qualidade de cada um foi a fórmula encontrada pelo professor para fazer com que os alunos tivessem consciência do seu protagonismo.
Ele passou a falar menos e ouvir mais os alunos, o que refletiu em uma mudança no comportamento, no aprendizado e na realidade de muitos deles.
“Eu trabalho muito a didática dos projetos. A ideia é, primeiro, valorizar o conhecimento do aluno, e eu acho que esse é o ponto principal. Quando ele me diz que é bom em desenho, pintura, canto, dança, eu já ponho lá na minha caderneta, porque sei que, quando precisar, quero pôr o que ele tem de melhor”, explica o professor.
Além de valorizar o conhecimento dos alunos, o professor afirma que tenta sempre diminuir a desigualdade entre os estudantes reconhecendo as diferenças em seus ensinos anteriores.
“Seria injusto comparar um aluno que teve uma base muito deficiente, por mil e um motivos, familiares, estruturais, com um aluno que veio praticamente pronto, são alunos diferentes. Você tem que avaliar de acordo com o que ele trouxe, o que ele diz, até onde ele pode chegar”, afirma.
Uma das alunas de Jayse, Eulália da Silva Oliveira explica que as aulas com o premiado professor fizeram com que ela aceitasse melhor sua identidade.
“Eu alisava muito meu cabelo, até um tempo que eu desisti do alisamento e trancei. Depois que eu fiz isso, me ajudou bastante a reconhecer quem eu era, já com ajuda do projeto do professor Jayse”, explica a estudante.
O prêmio ao qual Jayse concorre é de US$ 1 milhão e será entregue ao vencedor em março de 2019, em Dubai, nos Emirados Árabes.
Origem
Jayse é filho de pai analfabeto, que trabalha consertando geladeira. Ele afirma que, se mesmo com as dificuldades impostas a ele, conseguiu tornar-se um exemplo de dedicação, os alunos têm ainda mais possibilidades.
Para o professor, nunca se deve ter vergonha da origem. "Se eu cheguei até agora, se estão reconhecendo, se esse júri internacional viu em mim um professor inspirador, eles podem, também", afirma.
Jayse também orienta os alunos, a partir de sua experiência. "Com minha base, foi difícil chegar até aqui. Imagina o que eles podem fazer, tendo acesso à tecnologia, conhecimento na palma da mão", observa.
O docente também destaca a relação com as turmas. "Eu digo muito ‘vocês são incríveis’. O aluno não sabe o poder que ele tem na mão. Imagina se ele soubesse o valor que essa sala tem?”, indaga.