A doença afeta 8,9% da população. Especialista analisa os principais fatores de risco
A diabetes é uma doença metabólica que ocorre a partir do momento em que o pâncreas não consegue produzir insulina suficiente para suprir as necessidades do organismo, ou quando o hormônio não age de maneira adequada. Segundo dados do Ministério da Saúde, por meio da pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), hoje 8,9% da população vive com a enfermidade. Considerando que, de acordo com o IBGE, o Brasil tem 208 milhões de habitantes, a doença afeta aproximadamente 18 milhões de brasileiros. A má notícia é que esse número não para de crescer, nos últimos dez anos a taxa subiu 61,8%, colocando o Brasil em 4º lugar no ranking mundial de países com maior incidência da doença.
De acordo com o médico endocrinologista da Docway, Dr. Áureo Chaves, “a diabetes é uma doença crônica, em que há deficiência de produção e/ou ação da insulina”. Para entender melhor a patologia, o especialista explica que insulina é o hormônio responsável pelo controle de glicose (açúcar) no sangue. O corpo precisa da insulina para a utilização da glicose obtida por meio dos alimentos como fonte de energia.
Quando a pessoa tem diabetes, esse trabalho é afetado. Com o nível de glicose no sangue elevado (hiperglicemia) por longos períodos, podem haver danos mais graves em órgãos, vasos e nervos. Segundo o médico, muitos brasileiros têm a doença e não sabem. “Uma boa parte da população convive com esse problema e não sabe. Por esse motivo, é importante entender seus fatores de risco e tratamentos. Quando controlada, ela não oferece maiores riscos a nossa saúde”. E, agora você deve estar se perguntando: Posso ter diabetes? Segundo o Dr. Áureo Chaves existem dois tipos principais e seus fatores de risco, aos quais devemos ficar atentos.
A diabetes mellitus tipo 1, que concentra entre 5% e 10% do total de pessoas afetadas, aparece geralmente na infância ou na adolescência, podendo ser diagnosticada também em adultos. Esse tipo é uma doença autoimune, isto é, ocorre devido a produção equivocada de anticorpos contra as nossas próprias células, neste caso específico, contra as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Logo, pouca ou nenhuma insulina é liberada para o corpo da pessoa, com isso a glicose fica no sangue, em vez de ser usada nas células como fonte de energia.
“Não sabemos exatamente o que desencadeia esta produção equivocada de auto anticorpos, mas sabe-se que há um fator genético importante. Todavia, só a genética não explica tudo, já que existem irmãos gêmeos idênticos em que apenas um deles apresenta diabetes tipo 1. Imagina-se que algum fator ambiental seja necessário para o início da doença. Entre os possíveis culpados podem estar infecções virais, contato com substâncias tóxicas, carência de vitamina D, e até exposição ao leite de vaca ou glúten nos primeiros meses de vida. O fato é que em alguns indivíduos, o sistema imunológico de uma hora para outra começa a atacar o pâncreas, destruindo-o progressivamente”, explica o endocrinologista.
Já a diabetes mellitus tipo 2 é uma doença que também apresenta algum grau de diminuição na produção de insulina, mas o principal problema é uma resistência do organismo à insulina produzida, fazendo com que as células não consigam captar a glicose circulante no sangue. Ela ocorre em cerca de 90% dos casos, é o tipo mais comum. A diferença aqui, é que ela se manifesta com mais frequência em adultos, mas crianças com problemas de obesidade, sedentários e com histórico familiar, também podem desenvolver, mas o excesso de peso continua sendo o principal fator de risco para o tipo 2.
O modo como o corpo armazena gordura também é relevante. Pessoas com acúmulo de gordura predominantemente na região abdominal apresentam maior risco de desenvolver a enfermidade. “A diabetes tipo 2 vem muitas vezes acompanhada por outras condições, incluindo hipertensão arterial e colesterol alto. Esta constelação de condições clínicas (hiperglicemia, obesidade, hipertensão e colesterol alto) é referida como síndrome metabólica, sendo um grande fator de risco para doenças cardiovasculares”, detalha.
Além da obesidade e do sedentarismo, há outros fatores de risco para a diabetes tipo 2: idade acima de 45 anos, histórico familiar, hipertensão arterial, história previa de diabetes gestacional, ovário policístico, tabagismo, dieta rica em gorduras saturadas e carboidratos e pobre em vegetais e frutas. Se você se enquadra em algum desses casos, o Dr. Áureo Chaves recomenda a busca imediata por um médico endocrinologista, “quanto mais cedo a doença for diagnosticada, mais rápido será o início do tratamento e melhor qualidade de vida terá o paciente", explica. O diagnóstico é simples, um exame de sangue pode dizer se você tem ou não. Com uma gota de sangue já é possível saber se há alteração no nível de glicemia, caso ela seja considerável, outros exames confirmariam o diagnóstico. A glicemia normal, estando em jejum, não deve ultrapassar 99mg/L e duas horas após uma refeição até 140mg/L.
Após o diagnóstico positivo, é importante controlar o nível de glicose no sangue do paciente para evitar complicações. Além dos medicamentos, que ajudam nesse controle, existem outras atitudes que podem ser tomadas para uma melhor qualidade de vida e controle da doença. Alimentação saudável é fundamental, regular a quantidade de doces usando de preferência os dietéticos, gorduras mono e poli-insaturadas e carboidratos complexos integrais ingeridos ao longo do dia, ajudam nesse controle. Exercícios físicos regulares ajudam a baixar essas taxas de glicose no sangue, e eles não precisam ser feitos na academia, caminhadas e bicicleta são boas opções.
Se você tem diabetes e fuma, o médico aconselha a tentar parar, pois esse hábito acelera os problemas relacionados a disfunção, porque diminui não só o fluxo sanguíneo como o oxigênio das células. Em alguns casos já com a doença avançada, além da dieta, atividade física e antidiabéticos orais, será necessário uso de injeções de insulina para melhor controle, mas tudo isso é recomendado por um especialista e cada caso será analisado individualmente. “Atualmente graças aos avanços no campo da ciência, conseguimos tratar cada caso de maneira eficiente, mas é claro que precisamos da ajuda do paciente. Mudar para um estilo de vida saudável é importantíssimo para que você possa conviver melhor com a doença e sem grandes riscos”, finaliza o especialista.