Um dos modelos produzidos pela Jeep na fábrica em Goiana é o Compass, um SUV que vem equipado com quatro sistemas semiautônomos
Considerados o futuro do mercado automobilístico mundial, os carros autônomos não devem demorar muito tempo até desembarcarem nas concessionárias brasileiras. Enquanto a tecnologia ainda não permite a produção comercial de veículos que se locomovam totalmente sem a necessidade do ser humano, a indústria já vem adotando algumas iniciativas que caminham para esse futuro não tão distante. Nesse cenário, Pernambuco é um dos estados que se destaca através do investimento da Fiat Chrysler Automobiles no Polo Jeep, em Goiana. É da planta que sai o Jeep Compass, veículo que desde 2016 vem equipado com sistemas que auxiliam a condução dos motoristas, aumentando a segurança e o conforto no volante.
Em evento realizado na última terça-feira na montadora em Goiana, representantes da FCA e de parceiros do grupo falaram sobre as tendências para os próximos anos. Gerente de Marketing da Bosch, que fornece peças para a FCA, Alexandre Pagotto lembrou que a automação traz benefícios. “Há um aperfeiçoamento da segurança e redução dos acidentes, já que 90% deles são causados por falhas humanas. Além disso, a mobilidade fica mais democrática, já que há uma grande parcela da população que não dirige por medo”. Um melhor aproveitamento do investimento, no caso de táxis, por exemplo, também foi elencado, já que um carro 100% autônomo pode rodar 24h, segundo o especialista.
Produzido desde novembro de 2016, o Jeep Compass vem equipado com quatro sistemas semiautônomos: o aviso de colisão frontal com assistente de frenagem de emergência, equipamento que, segundo a equipe de engenharia da FCA, reduziria em 72% as colisões traseiras caso todos os carros tivessem a ferramenta; o controle de velocidade adaptativo, que mantém o veículo em uma velocidade e distância do carro da frente determinadas pelo condutor, sem a necessidade de aceleração ou frenagem (o carro para totalmente caso esteja a menos de 40 km/h); o aviso de mudança de faixa, que informa ao condutor quando o veículo está saindo da faixa de rolagem; e o sistema de estacionamento, que encontra a vaga ideal e faz todas as manobras necessárias (o condutor precisa controlar o freio, aceleração e marchas, apenas).
De acordo com os porta-vozes da FCA, o Compass foi o primeiro SUV produzido no país com um bom nível de autonomia. A empresa criou um grupo específico para se dedicar somente ao estudo de carros autônomos. Por enquanto, nenhum outro carro fabricado em Goiana (Jeep Renegade e Fiat Toro) possui as mesmas funcionalidades semi autônomas do Compass, mas a possibilidade não é descartada.
Legislação gera entrave no Brasil
Muito embora os itens que equipam o Compass sejam considerados de luxo, presentes apenas em veículos de maior faixa de preço, o nível de automação dos carros brasileiros está muito abaixo de outros países do mundo. De acordo com o gerente de marketing da Bosch, Alexandre Pagotto, em uma escala que vai de um a cinco, os veículos brasileiros ficam no primeiro nível. E o entrave nem é a falta de tecnologia, mas sim a legislação de trânsito do país.
“O nosso código de trânsito ainda não foi atualizado. Não se pode, por exemplo, dirigir sem as duas mãos no volante”, explica o especialista, afirmando que a partir do segundo nível de automação não é mais necessário ficar o tempo inteiro controlando a direção do carro. Em nível mundial, o nível mais alto de automação em um carro produzido comercialmente é o terceiro, e está presente somente no Audi A8, segundo Pagotto. “Não há nenhum carro produzido em série nos níveis mais altos”.
Para debater os entraves da legislação brasileira no que diz respeito à automação dos carros, uma reunião com representantes do setor, a exemplo da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Sindipeças, Polícia Rodoviária Federal, entre outros, acontecerá no próximo mês. “Vamos discutir como evoluir a legislação, a segurança desse tipo de veículo… o governo tá abraçando, sim, esse tema”, destaca Pagotto, acrescentando que uma resolução publicada no ano passado pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) determina que haja uma discussão sobre 38 itens de segurança veicular que podem ou não ser adotados nos automóveis brasileiros.