14 abril 2018

Economia: À frente dos homens

Alexandra Morales e Juliana Coelho contam como é ser mulher diante de milhares de homens em uma fábrica de carros como a FCA

Ainda falta muito, você diria – com razão. Avançamos bastante – é igualmente verdade. No Brasil de hoje, 37% dos cargos de chefia são ocupados por mulheres, segundo dados do IBGE, apesar de serem 43% do total de trabalhadores do país.

O Dia Internacional da Mulher é uma data com raízes na luta pelos direitos das trabalhadoras das indústrias nova-iorquinas, na década de 1910. As conquistas devem ser celebradas como na trajetória de duas gestoras das principais plantas da FCA no Brasil, em Betim (MG) e Goiana (PE), contada abaixo:
Alexandra Morales, 43 anos, gerente de operações logísticas no Polo Automotivo Fiat (Betim, MG)

Ser gerente de operações logísticas da FCA significa estar à frente de uma equipe de 1.012 homens (e 15 mulheres) na maior fábrica de carros da América Latina. A história da engenheira Alexandra Morales com a FCA começa em 1998, trabalhando para um operador logístico do grupo. Foi em 2012 que ela passou a integrar a equipe Fiat Chrysler, com experiência em diversas áreas, até assumir o cargo atual.

Ocupando um cargo de chefia em um segmento de mercado ainda associado aos homens, Alexandra rompeu as estatísticas duas vezes. E, enfrentou o peso do pioneirismo com elegância. “O machismo é mais um desafio a ser superado, como qualquer outro. Alexandra diz que o “respeito” é a base dos relacionamentos de trabalho, independentemente de gênero ou hierarquia.

Outro grande desafio de Alexandra é a maternidade.  “É um fato que minha jornada, ou a da maioria de nós, é dupla”, ela diz “Quando as crianças eram menores, era mais difícil com relação às viagens, longas ausências, administração da casa, marido, mas o tempo me mostrou que os problemas eram menores do que pareciam na época e agora posso dizer que tenho o equilíbrio”, reconhece Alexandra, mãe de duas garotas.
Juliana Coelho, 28 anos, gerente da área de Montagem no Polo Automotivo Jeep, em Goiana (PE)

Ela nem chegou aos 30 e já gerencia 1.900 pessoas – 90% homens. Funcionária da FCA desde 2013, Juliana começou a sua carreira profissional na Jeep, primeiro emprego dela com carteira assinada. A pernambucana foi escolhida em uma seleção entre 40 engenheiros de todo o Brasil. Passou por várias funções até conquistar a sua primeira posição de liderança no setor de pintura, onde se tornou a primeira gerente mulher da área.

“Não é apenas uma conquista minha. Quando passo pelos corredores, outras trabalhadoras da fábrica me dizem palavras de apoio porque elas sabem a importância dessa conquista de espaço, de representatividade. Se eu posso, elas também podem”, argumenta.

Mulheres que trabalham fora, seja em posições de liderança ou não, também precisam enfrentar outras barreiras. Ao lado de todo o esforço profissional pesam as obrigações sociais impostas a elas. Por ainda serem as principais responsáveis pelo cuidado com os filhos e afazeres domésticos, em média, as mulheres trabalham sete horas a mais do que os homens, segundo pesquisa recente do Ipea.

Juliana ainda não tem filhos, porém se solidariza com o esforço das companheiras de trabalho. “Muitas se dividem entre a fábrica, a faculdade e os filhos. Exige uma coragem imensa”, reconhece. “Mas a força das mulheres sempre surpreende. É por isso que precisamos acreditar sempre no nosso potencial”.

 
-
-
Todos os direitos reservados à Anderson Pereira. Obtenha prévia autorização para republicação.
-