Cartórios nas cidades com mais casos da arbovirose lavram mais mortes desde início de surto
A chikungunya e uma onda de mortalidade. É esse o desenho que fica cada vez mais evidente nas cidades que vivenciaram o pico da doença nos últimos meses. As cidades que concentram a maioria de pessoas que tiveram sintomas da enfermidade ficam na Região Metropolitana no Recife (RMR) e Zona da Mata, que somam 6,4 mil notificações. Em seguida, estão os registros da 4ª regional de saúde de Caruaru, englobando 32 municípios, e contam 5,9 mil casos. No terceiro lugar de notificações aparece a 12ª regional com sede em Goiana, com 4,3 mil. Espalhadas por essas regiões estão oito de dez cidades onde se verificou uma elevação dos registros gerais de óbitos entre outubro de 2015 e março de 2016.
Dados da Corregedoria do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) elencam Jaboatão dos Guararapes e Recife, na RMR; Belo Jardim, Caruaru, Pesqueira, São Bento do Una e Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste; Vitória de Santo Antão, na Mata Sul; e Serra Talhada e Caetés, no Sertão, como as dez cidades onde aconteceram os mais expressivos aumentos de mortes. No Recife, por exemplo, 955 certidões foram emitidas em novembro, 744 em dezembro, 1.118 em janeiro e 1.551 em fevereiro. A cidade já confirmou oficialmente nove óbitos confirmados por chikungunya. Em Caruaru, houve 299 registros em novembro. Em janeiro o número foi de 396 e, em fevereiro, 409. Dados de dezembro e janeiro ainda não foram computados. O município teve apenas uma confirmação de morte por dengue até o momento. “Já tínhamos chamado a atenção da mortalidade de idosos, mas em números gerais não”, comentou o diretor de Vigilância Ambiental de Caruaru, Paulo Florêncio. Ele afirmou que é preciso avaliar melhor os números antes da conclusão concreta. Um caso que chama atenção é o de Caetés, onde não houve óbitos lavrados em novembro e dezembro, mas registrou 19 em janeiro, nove em fevereiro e 19 em março. A coordenadora da atenção básica do município, Renata Nogueira, também se surpreendeu com os dados. “Estamos com a investigação de dois óbitos apenas suspeitos por arbovirose. O de uma criança e de um idoso. Mas nada confirmado até agora”, relatou.
O consultor para arboviroses do Ministério da Saúde, Carlos Brito, reforçou a necessidade de uma melhor apuração sobre as mortes. “É provável que parte desse aumento dos óbitos seja relacionada à chikungunya. Isso é um evento novo que requer uma investigação em profundidade. Precisamos entender como a chikungunya leva ao óbito porque há causas diretas e indiretas, como descompensações cardíaca, renal e hemorrágica”, afirmou. Para ele, a sensibilização dos profissionais de saúde em relacionar a enfermidade como desencadeador de complicações é um ponto chave. O diretor de Controle de Doenças e Agravos da Secretaria Estadual de Saúde (SES), George Dimech, destacou que o governo está fazendo uma revisão de mortes suspeitas por arboviroses. Ele comentou que já há evidências na Colômbia que indicam alta de óbitos gerais também. “Atribui-se que a alteração no padrão de mortalidade esteja mais relacionado à chikungunya porque ele foi a novidade com potencial de severidade”, contou.
FolhaPE