Luiz Moraes, falecido aos 91 anos, inaugurou o restaurantes Buraco da Gia há 60 anos e conquistou a clientela com seus caranguejos e personalidade
O mais famoso ponto turístico de Goiana – e um dos mais populares restaurantes do Brasil –, o Buraco da Gia nunca serviu uma jia sequer em seus 60 anos de existência. O nome da casa, inaugurada em 1956 por Luiz Moraes, tem origem numa cacimba que existia no quintal e que, pela umidade, era bastante frequentada pelas rãs, que é outro jeito de chamar o bichinho. O Buraco da Gia colocou o município de Goiana, Zona da Mata Norte de Pernambuco, no mapa das celebridades nacionais e internacionais, graças, especialmente, ao carisma do seu fundador, que faleceu na última quinta-feira, aos 91 anos.
“Eu sei que jia se escreve com jota e não com gê, mas o buraco é meu e eu boto o nome que quiser”. Era assim, intempestivo, divertido, criativo e enérgico, que Luiz Moraes explicava o suposto erro da grafia.
A primeira personalidade a pôr os pés no modesto restaurante foi o ex-presidente Jânio Quadros e, como relatou Luiz Moraes – em entrevista concedida ao <CF272>Jornal do Commercio </CF>por ocasião do cinquentenário do restaurante – não precisou nem beber: “Já chegou pronto”. Ainda no time dos primeiros homens da República, veio em seguida Juscelino Kubitscheck, com seu eterno savoir-faire de político profissional.
E aí não parou mais: uma avalanche de nomes de primeiro, segundo e terceiro escalão do universo político e do entretenimento deram as caras por lá, fazendo questão de registrar para a posteridade a pose clássica: tendo um copo de cerveja levado aos lábios pela patola de um robusto caranguejo.
Luiz Moraes percorreu o Brasil, de Norte a Sul, participando de programas famosos como o de Flávio Cavalcanti, Faustão, Silvio Santos e Hebe Camargo. “Eu não fui convidado para nenhum deles”, dizia, “os meus caranguejos é que foram”, costumava reconhecer o empresário goianense, tido e havido como “embaixador” do município.
O Buraco da Gia ficou famoso pela comida servida, mas ainda mais pela habilidade de Moraes em amestrar crustáceos. Ele foi capaz de fazer com que seus “bichinhos” praticassem proezas diversas como portar cafezinhos com o garbo de um garçom treinado, empurrar carrinhos cheios de garrafas pelo salão com a disposição de homem acostumado ao trabalho braçal, cumprimentar os comensais com a graça e a leveza dos bailarinos.
Grande parte desses animais esquisitos, mas saborosos, ia parar na panela. Afinal, nem todos nasceram para as regalias do estrelato. E, no Buraco da Gia, os grandes talentos têm privilégios de galãs como dormir na rede e comer camarão. Querem coisa melhor? Sim, o carinho do dono que, obviamente, apegava-se a eles como uma dona-de-casa ao seu yorkshire. Com todas aquelas tenazes, ele não tinha medo? “Até hoje só conheci um bicho brabo que não consegui amansar: é mulher. E quanto mais braba, mais eu gosto”, dizia seu Luiz.
A verve e o estilo “se vira nos 30” de Luiz Moraes vinha, segundo ele, da prática adquirida no comércio ambulante. Quando, ainda jovem, saiu de Itambé em direção ao Rio de Janeiro foi ser camelô, profissão que, assegurava, lhe deu a experiência de vender o que tinha e o que não tinha. Moraes provava o que dizia com o exemplo de quando vendeu cobertor de recém-nascido como se fosse para casal. Para justificar ao cliente o tamanho diminuto da peça, ele tascou: “Para um casal unido, até um lenço cobre os dois”.
E foi o romance que trouxe Luiz Moraes de volta, definitivamente, para Goiana, cidade à qual ele declarava seu amor incondicional e jurava de lá nunca mais sair. Ao vir da Cidade Maravilhosa para ser padrinho de casamento do irmão, terminou se apaixonando pela irmã da noiva, Maria Pereira de Oliveira, que faleceu há 35 anos, mas foi imortalizada como nome de rua, uma transversal daquela onde Moraes comprou sua primeira barraca, que viria a se transformar no lendário Buraco da Gia.
Era uma venda, nas palavras do próprio dono, para vender uma cachacinha, cerveja gelada e “comida de pobre”. Mal sabia ele que a construção de um caritó (lugar de engorda dos caranguejos) definiria o resto de sua vida. Foi lá, observando os movimentos dos bichos, que ele começou a pegá-los e treiná-los para fazer graça para os clientes. A ampliação foi acontecendo aos poucos e hoje as instalações em nada lembram a pequena barraca. Com a fama e a prosperidade trazida pelos caranguejos, Luiz Moraes sustentou a família e ajudou a criar os netos.
Reportagem: JCOnline
Vídeo: GoianaTV
O mais famoso ponto turístico de Goiana – e um dos mais populares restaurantes do Brasil –, o Buraco da Gia nunca serviu uma jia sequer em seus 60 anos de existência. O nome da casa, inaugurada em 1956 por Luiz Moraes, tem origem numa cacimba que existia no quintal e que, pela umidade, era bastante frequentada pelas rãs, que é outro jeito de chamar o bichinho. O Buraco da Gia colocou o município de Goiana, Zona da Mata Norte de Pernambuco, no mapa das celebridades nacionais e internacionais, graças, especialmente, ao carisma do seu fundador, que faleceu na última quinta-feira, aos 91 anos.
“Eu sei que jia se escreve com jota e não com gê, mas o buraco é meu e eu boto o nome que quiser”. Era assim, intempestivo, divertido, criativo e enérgico, que Luiz Moraes explicava o suposto erro da grafia.
A primeira personalidade a pôr os pés no modesto restaurante foi o ex-presidente Jânio Quadros e, como relatou Luiz Moraes – em entrevista concedida ao <CF272>Jornal do Commercio </CF>por ocasião do cinquentenário do restaurante – não precisou nem beber: “Já chegou pronto”. Ainda no time dos primeiros homens da República, veio em seguida Juscelino Kubitscheck, com seu eterno savoir-faire de político profissional.
E aí não parou mais: uma avalanche de nomes de primeiro, segundo e terceiro escalão do universo político e do entretenimento deram as caras por lá, fazendo questão de registrar para a posteridade a pose clássica: tendo um copo de cerveja levado aos lábios pela patola de um robusto caranguejo.
Luiz Moraes percorreu o Brasil, de Norte a Sul, participando de programas famosos como o de Flávio Cavalcanti, Faustão, Silvio Santos e Hebe Camargo. “Eu não fui convidado para nenhum deles”, dizia, “os meus caranguejos é que foram”, costumava reconhecer o empresário goianense, tido e havido como “embaixador” do município.
O Buraco da Gia ficou famoso pela comida servida, mas ainda mais pela habilidade de Moraes em amestrar crustáceos. Ele foi capaz de fazer com que seus “bichinhos” praticassem proezas diversas como portar cafezinhos com o garbo de um garçom treinado, empurrar carrinhos cheios de garrafas pelo salão com a disposição de homem acostumado ao trabalho braçal, cumprimentar os comensais com a graça e a leveza dos bailarinos.
Grande parte desses animais esquisitos, mas saborosos, ia parar na panela. Afinal, nem todos nasceram para as regalias do estrelato. E, no Buraco da Gia, os grandes talentos têm privilégios de galãs como dormir na rede e comer camarão. Querem coisa melhor? Sim, o carinho do dono que, obviamente, apegava-se a eles como uma dona-de-casa ao seu yorkshire. Com todas aquelas tenazes, ele não tinha medo? “Até hoje só conheci um bicho brabo que não consegui amansar: é mulher. E quanto mais braba, mais eu gosto”, dizia seu Luiz.
A verve e o estilo “se vira nos 30” de Luiz Moraes vinha, segundo ele, da prática adquirida no comércio ambulante. Quando, ainda jovem, saiu de Itambé em direção ao Rio de Janeiro foi ser camelô, profissão que, assegurava, lhe deu a experiência de vender o que tinha e o que não tinha. Moraes provava o que dizia com o exemplo de quando vendeu cobertor de recém-nascido como se fosse para casal. Para justificar ao cliente o tamanho diminuto da peça, ele tascou: “Para um casal unido, até um lenço cobre os dois”.
E foi o romance que trouxe Luiz Moraes de volta, definitivamente, para Goiana, cidade à qual ele declarava seu amor incondicional e jurava de lá nunca mais sair. Ao vir da Cidade Maravilhosa para ser padrinho de casamento do irmão, terminou se apaixonando pela irmã da noiva, Maria Pereira de Oliveira, que faleceu há 35 anos, mas foi imortalizada como nome de rua, uma transversal daquela onde Moraes comprou sua primeira barraca, que viria a se transformar no lendário Buraco da Gia.
Era uma venda, nas palavras do próprio dono, para vender uma cachacinha, cerveja gelada e “comida de pobre”. Mal sabia ele que a construção de um caritó (lugar de engorda dos caranguejos) definiria o resto de sua vida. Foi lá, observando os movimentos dos bichos, que ele começou a pegá-los e treiná-los para fazer graça para os clientes. A ampliação foi acontecendo aos poucos e hoje as instalações em nada lembram a pequena barraca. Com a fama e a prosperidade trazida pelos caranguejos, Luiz Moraes sustentou a família e ajudou a criar os netos.
Reportagem: JCOnline
Vídeo: GoianaTV