Discutir as evidências científicas e apresentar as boas práticas que devem ser implementadas a fim de cumprir as exigências legais de humanização no atendimento das unidades de saúde obstétrica do município de Goiana. Com esse objetivo, cerca de 120 pessoas, entre profissionais de saúde, gestores municipais e integrantes do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) participaram, na última segunda-feira (9), da V Oficina de Sensibilização e Humanização do Parto e Nascimento. O evento foi realizado no auditório da Escola Técnica Estadual Aderico Alves de Vasconcelos.
Segundo a coordenadora do projeto Humanização do Parto do MPPE, promotora de Justiça Maísa Melo, a oficina de Goiana trouxe como novidade a realização prévia de um diagnóstico sobre a realidade da assistência obstétrica no município. “Com esse evento, inauguramos uma nova fase do projeto, que é conhecer e debater a realidade dos municípios. O diagnóstico de Goiana será apresentado ao promotor de Justiça local, Fabiano Saraiva, e repercutido com os profissionais que atuam nas unidades de saúde de Goiana”, destacou.
Fabiano Saraiva afirmou que a realização do seminário foi um momento de partida para que o Ministério Público acompanhe a assistência à saúde das mulheres e dos recém-nascidos e cobre melhorias com base nos dados apontados pelo diagnóstico.
Já o coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa da Saúde (Caop Saúde), Édipo Soares, enalteceu as realizações do projeto, que segundo ele foi discutido e elogiado em reunião da Comissão Permanente de Defesa da Saúde do Conselho Nacional de Procuradores Gerais. “Não podemos esquecer que a garantia da humanização do parto não é um favor, mas uma dívida humanitária que o Brasil precisa saldar com as suas mulheres”, argumentou Édipo Soares.
A gerente da 12ª Gerência Regional de Saúde do Estado, Daniele Uchoa, explicou algumas das principais dificuldades encontradas pelos gestores da saúde pública. Segundo ela, os municípios têm dificuldade para manter equipes completas nos plantões obstétricos, o que acaba levando à transferência das pacientes para os grandes centros. Uma sugestão, trazida pelo MPPE e já apresentada à Secretaria Estadual de Saúde, é a criação de maternidades regionais, que seriam supridas de recursos humanos e materiais pela associação de vários municípios.
Humanização – a enfermeira obstétrica Tatianne Frank apresentou as evidências científicas que justificam a criação, já no ano 2000, do Programa de Humanização do Parto e Nascimento pelo Ministério da Saúde. Segundo ela, a adoção de práticas simples, como ambiência acolhedora e o respeito ao processo fisiológico do parto, traz benefícios estatisticamente comprovados à saúde da mãe e ao desenvolvimento psíquico e emocional da criança.
“A mulher, quando entra em trabalho de parto, passa por várias descargas hormonais que a preparam para ser mãe. Nos casos em que não houve essa situação, como nas cesarianas eletivas, não há a liberação desses hormônios. Um exemplo alarmante é a comprovação de que 43% das mulheres que não passaram pelo trabalho de parto não conseguem produzir leite para alimentar seus filhos”, apontou a enfermeira.
Já a promotora de Justiça Maísa Melo defendeu a atuação dos profissionais de saúde como agentes transformadores, especialmente no que diz respeito aos casos de violência obstétrica. “Nas outras áreas da medicina a existe um movimento em direção a procedimentos cada vez menos invasivos. Por que na assistência obstétrica não pode ser igual?”, indagou.
Assessoria