15 abril 2015

Goiana: Nacionalização de conteúdo é estratégica para Jeep


Parque de Fornecedores responde por 40% dos componentes, em valor

O primeiro carro a ser produzido no Polo Automotivo Jeep, em Goiana, o Jeep Renegade sairá da linha de produção e chegará às concessionárias de todo o País com um índice de nacionalização de mais de 70%. A expectativa de tornar o veículo o mais brasileiro possível, no entanto, é ainda mais ousada. Nos próximos meses, o índice de localização deve superar a casa dos 80%, percentual que vai se repetir também nos demais veículos a serem fabricados em Pernambuco.

A alta nacionalização é um fato notável, pois o índice alcançado é muito superior ao que se observa de modo geral em fábricas em início de produção. Iniciar o projeto com alta nacionalização de componentes é, porém, decorrência de uma decisão estratégica do Grupo. Foi com este objetivo que a fábrica Jeep foi concebida como o centro de um polo automotivo, que conta com um Parque de Fornecedores com 16 empresas, responsáveis pela fabricação de 17 linhas estratégicas de produtos. Apenas esses fornecedores internos ao perímetro da fábrica serão responsáveis por 40% dos conteúdos do Jeep Renegade. Os demais componentes que permitirão alcançar o índice de nacionalização de 80% virão de Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais e outros estados.
A estratégia que estruturou o Polo Automotivo Jeep privilegiou estabelecer as principais linhas de insumos e componentes, exatamente aquelas que impactam principalmente na logística e na qualidade, ao lado da planta. Esta localização permite maior flexibilidade no abastecimento, com a adoção dos sistemas just in time e just in sequence. Além disso, essa opção estreita e consolida ainda mais a relação com os fornecedores.

“A estruturação do parque de fornecedores foi um processo inovador, pois, ao contrário de como costuma ocorrer, primeiro foram definidas as linhas estratégicas de produto e seus respectivos processos – standard de manufatura de classe mundial, tecnologias, equipamentos de produção e de controle – para posterior escolha dos fornecedores. Na etapa seguinte, definimos em conjunto com os fornecedores os fluxos logísticos e layouts, para, somente a partir daí, dimensionar o complexo do Parque de Fornecedores”, explica o diretor de Gestão de Projetos Estratégicos da Fiat Chrysler, Antônio Damião.
Os investimentos no Supplier Park ultrapassaram os R$ 2 bilhões, sendo que a Fiat Chrysler Automobiles - FCA contribuiu com cerca de R$ 1 bilhão (obras civis e utilidades) e os 16 fornecedores com outros R$ 1 bilhão (equipamentos). Foram instalados no Parque de Fornecedores conjuntos estampados e soldados, pintura, peças injetadas de acabamento interno e externo, montagens (como bancos, mecanismos, suspensão, pneus/rodas, vidros, entre outros) até sistemas complexos como painéis de instrumentos, sistema de arrefecimento do motor e ar-condicionado.

Para chegar a este modelo, desde 2011 foram feitos muitos benchmarkings no Brasil e no mundo. Todas as lições aprendidas foram aplicadas em busca de um modelo aprimorado e mais eficiente. A principal vantagem do modelo adotado é possibilitar, desde o início da produção, um elevado índice de nacionalização de componentes. Com isso, obtém-se redução dos custos e de riscos logísticos, minimização e até eliminação dos riscos de qualidade durante o processo de embalagem e transporte, além de maior flexibilidade. Outro feito importantíssimo é que a nacionalização reduz o risco cambial, que cresce proporcionalmente à quantidade de itens importados.
Além dos efeitos internos, a nacionalização da produção significa atrair indústrias para o entorno da planta Jeep. Isso ocorre porque a indústria automotiva é uma cadeia longa de produção, que envolve muito fornecedores de diversos setores. Os fornecedores necessitam desenvolver seus próprios fornecedores de insumos e serviços e, desse modo, ativa-se uma corrente de industrialização. Pesquisas mostram que, a cada emprego gerado diretamente por uma montadora, outros quatro ou cinco são gerados no restante da cadeia direta e indireta. É por isso que o setor automotivo é chamado de “indústria de indústrias”: seu efeito estruturante atrai inúmeras outras indústrias para seu entorno.
Espaço estratégico

Considerado um espaço estratégico dentro do Polo Automotivo Jeep, em Pernambuco, o Supplier Park congregará grande parte dos fornecedores da nova planta do Grupo FCA - Fiat Chrysler Automobiles em um mesmo local. Com investimentos da ordem de R$ 2 bilhões, o Parque de Fornecedores ocupa uma área construída de 270 mil metros quadrados e situa-se ao lado da fábrica da Jeep, em Goiana. O parque é formado por 16 empresas, que ocuparão 12 edifícios onde serão produzidas 17 linhas estratégicas de componentes. Sozinho, o Supplier Park, que será concluído ainda no primeiro semestre deste ano, será responsável por 40%, em valor, da demanda de componentes da montadora, conforme explica Alfredo Fernandez, gerente do Supplier Park.

A necessidade de trazer os principais fornecedores para perto da fábrica surgiu ainda em 2011, imediatamente após o anúncio da construção de uma nova planta do Grupo em Goiana. Foi uma decorrência da própria experiência anterior no País. Quando se instalou no Brasil, nos anos 1970, a Fiat Automóveis optou por Minas Gerais, enquanto o parque automotivo e de autopeças estava concentrado em São Paulo. Com o passar dos anos, a empresa conseguiu atrair fornecedores estratégicos para seu entorno, em processo conhecido como mineirização, que foi decisivo para a consolidação e expansão da Fiat. “Da mesma forma, a pernambucanização dos fornecedores é estratégica para o sucesso do Polo Automotivo Jeep, que está a mais de 2 mil quilômetros dos fornecedores”, descreveu o diretor de Gestão de Projetos Estratégicos da Fiat Chrysler, Antônio Damião.
Diferentemente do que ocorreu em Minas Gerais, onde os fornecedores responsáveis por 68% do total comprado pela Fiat estão instalados a até 150 quilômetros de distância da fábrica, no Polo Automotivo Jeep os fornecedores estão sendo instalados em um terreno no perímetro da fábrica, em um modelo integrado de produção. A ideia, com isso, é conseguir o máximo de eficiência logística, bem como flexibilidade.

Nesse contexto, ainda em 2011 foram definidas, também, as linhas estratégicas de produtos que integrariam o Parque. A FCA parte de um trabalho bem estruturado dessas linhas estratégicas. Deu-se especial foco e atenção nos riscos de não-qualidade, de custos logísticos e nas características das peças, por exemplo. Além disso, levou-se em conta a necessidade de abastecimento just in time, para que o fornecedor siga sempre nossa produção e não precise fazer estoque, e just in sequence, para que os itens sejam entregues à linha de produção na sequência correta.
Com as linhas estratégicas definidas, foram decididos quem seriam os potenciais fornecedores para atender a esta demanda da nova fábrica. A lista inicial elencava 29 empresas, que passaram por um processo de concorrência interna, até o número final de 16 fornecedores, definido em outubro de 2012. Foram avaliados itens como os sistemas de gestão World Class Manufacturing (WCM) e World Class Logistics (WCL), a qualidade dos produtos, as tecnologias empregadas e a estrutura de recursos humanos. Alguns dos escolhidos atuam em mais de uma linha, como é o caso da Magneti Marelli, e vários deles trabalham conosco também na Fiat Automóveis, em Betim (MG). A lista é formada, prioritariamente, por grandes players globais.

Após a definição das empresas, foi feito um estudo de viabilidade financeira, com um produto virtual para estimativa de custos e, em seguida, o desenho do Parque de Fornecedores. De acordo com Damião, todos os processos foram desenhados a quatro mãos, em conjunto com as empresas. “Desenhamos os processos dos fornecedores e, em seguida, o fluxo logístico. Com essas informações, definimos o layout e, por último, o tamanho das instalações. São doze galpões de processos. Alguns deles abrigam mais de um fornecedor, por questão de sinergia”, detalhou Damião. As obras civis dos galpões foram iniciadas em janeiro de 2014. O investimento para a construção do Supplier Park 1 foi feito pela própria FCA. Entre construção e civil e utilidades, como instalações para energia, gás e ar comprimido, por exemplo, o custo da obra foi de R$ 1 bilhão.
Paralelamente às obras civis, foram sendo feitas as instalações dos equipamentos. Juntos, os 16 fornecedores investiram mais de R$ 1,1 bilhão em equipamentos para suas novas unidades produtivas. “Conforme o Supplier Park ia ficando pronto, os fornecedores se instalavam. O planejamento de cada galpão e da chegada dos equipamentos foi totalmente alinhado com os empresários”, destaca Damião. O objetivo é que, quando a fábrica estiver operando comercialmente, todos os fornecedores já estejam instalados e fornecendo para a planta. Dos cerca de 2 mil novos itens que serão demandados pela montadora, 450 serão fornecidos a partir do Parque de Fornecedores, o que representa um fluxo anual de mais de 27 milhões de operações logísticas entre o Supplier Park e a nova planta.

Também dentro do terreno do Supplier Park, está o Centro de Consolidação Fiat Chrysler (CDC). Com 54 mil metros quadrados, o galpão será responsável por receber as peças e os componentes que virão dos cross docks instalados em Minas Gerais e em São Paulo que, por sua vez, receberão os materiais adquiridos pela FCA no restante do País. No CDC, as peças serão armazenadas, sequenciadas e entregues às linhas de produção. Diariamente, mais de 1 mil entregas serão feitas para a planta da Jeep. Parte desses componentes, no entanto, seguirá para os fornecedores do Supplier Park. É o caso dos pneus e das rodas, que serão comprados pela FCA e disponibilizados para a Pirelli, que realizará a montagem do conjunto.
O CDC será gerenciado segundo o conceito de “First In, First Out”, no qual os primeiros componentes a chegarem no local serão, também, os primeiros a serem direcionados para a linha de produção. O CDC terá essa sensibilidade também para ver como os componentes estão sendo movimentados, sendo responsável, ainda, pela verificação dos itens estocados.

Empregos

O Parque de Fornecedores emprega atualmente 2,3 mil trabalhadores e deve elevar seu efetivo total para 3,2 mil pessoas até o final deste ano.
Gerenciando o Parque

O desafio de gerenciar o Parque de Fornecedores do novo Polo Automotivo Jeep, em Goiana, está nas mãos de Alfredo Fernandez. Formado em Engenharia Industrial, e com MBA e Doutor pela Universidade de Kyoto, no Japão, Alfredo começou sua carreira na indústria automotiva na Denso, produtora de sistemas e componentes automotivos do grupo Toyota. Dentro da empresa, chegou à posição de plant manager na Denso México, que empregava 5 mil pessoas. Depois trabalhou na ArcelorMittal - Divisão Automotiva com base em Toronto, Canadá, como vice-presidente de operações NAFTA. Em 2013, mudou-se de Toronto para Detroit e ingressou na Chrysler, como Gerente Geral de Manufatura.

Em maio de 2014, Alfredo Fernandez foi convidado a transferir-se para o Brasil como responsável pelo Parque de Fornecedores. “O Supplier Park faz a integração entre os 16 fornecedores e os diferentes departamentos da Jeep, com a função de ter sinergia de qualidade e produtividade. O maior desafio é o fato de que cada fábrica pertence a uma empresa diferente e cada uma delas tem sua cultura de trabalho.

Nosso desafio é integrar essas culturas para obter o máximo resultado possível”, explica.
“Em Pernambuco, estamos construindo a fábrica mais avançada da FCA no mundo, em termos de tecnologia, equipamentos, treinamento, produto e sistema de produção. Por exemplo, nossa aplicação de World Class Manufacturing (WCM) está sendo desenvolvida na sua totalidade, criando a cultura de melhoria contínua desde o início. Em Goiana, nós vamos fazer um carro da marca que mais cresce na empresa, o Jeep. Nosso desafio é agregar valor à marca Jeep, produzir com qualidade e eficiência e ajudar a empresa a continuar a crescer. Esse é o desafio dessa fábrica”, comenta.

A melhor parte de Pernambuco, para Alfredo Fernandez, são os próprios pernambucanos. “Também estamos aqui para contribuir com essa parte maravilhosa do Brasil onde tem muitas pessoas dispostas a trabalhar. As pessoas são abertas, sinceras e motivadas, gerando um clima laboral agradável. Ver o primeiro Jeep feito em Pernambuco ficar pronto trouxe uma sensação de satisfação e motivação para continuar com a nossa jornada”, comemora.
FCA

A FCA – Fiat Chrysler Automobiles, resultado da junção da Fiat SpA e do Chrysler Group LLC, foi constituída formalmente em 13 de outubro de 2014, quando lançou suas ações na Bolsa de Valores de Nova York. O novo grupo é o sétimo maior fabricante mundial de automóveis e desenvolve, projeta, fabrica e comercializa automóveis, veículos comerciais leves, componentes e sistemas de produção por meio de companhias localizadas em 40 países, tendo presença comercial em 150 mercados.

As marcas automotivas da FCA são: Alfa Romeo, Chrysler, Dodge, Fiat, Fiat Professional, Jeep, Lancia, Ram, Ferrari e Maserati, além de Abarth, Mopar e SRT. Os negócios da FCA também incluem a Comau (sistemas de produção), Magneti Marelli (componentes) e Teksid (fundição em ferro e alumínio). O Grupo oferece ainda serviços financeiros em apoio ao varejo e concessionárias por meio de suas subsidiárias, joint ventures e acordos comerciais com instituições especializadas.

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