Machismo que impera no interior não impede integrantes de realizar sonhos. Eles desfilam representando personagens femininos nas agremiações.
Vestidos de saia rodada com mangas bufantes e adereços que brilham mais que o sol quente de Aliança, na Zona da Mata de Pernambuco, Gilvandro Teixeira, 28 anos, e Edson Sebastião, 29, são Bianca e Sandriele, da corte do Maracatu Leãozinho de Itaquitinga. “Sou a dama da rainha, a mais importante”, explica Bianca, como gosta de ser chamado. Vaidosos, ficam aguardando para se apresentar na sombra de uma pequena vendinha de água de coco, conferindo se tudo está perfeito, desafiam o calor para mostrar sua cultura mais arraigada, nordestina e africana. “Já nascemos dentro dessa tradição, está dentro de nós”, conclui Bianca.
Dançando há 12 anos as culturas da terra, como o maracatu de baque solto e o caboclinho, a paixão sempre esteve nas decisões artísticas dos dois. “Desde que me entendo por gente quis fazer isso, é mais forte, está no sangue”, diz Bianca. “Nós que fazemos tudo, escolhemos o tecido, a cor, como vamos enfeitar. Eu mesma amo vermelho”, conta Sandriele, ajeitando a barra da saia.
De uma região onde o machismo reina, o sorriso e a simpatia escondem o sofrimento dos preconceitos que foram encontrando ao longo da vida. Mais tímida, Sandriele conta que é difícil ser aceita onde vive. “Nada nunca foi fácil para mim, minha mãe me abandonou com três anos de idade e continua sem querer saber de mim, ainda mais porque sou assim, né?”, afirma.
Sandriele ainda faz questão de falar que é trabalhadora, mas que está desempregada por causa da sua sexualidade. “Eu trabalhava num hospital cuidando de velhinhos, fui demitida e hoje eu lavo [roupa] para fora”, completa.
Com o nome mudado para Bianca desde os 12 anos, a amiga também não tem nenhum apoio em casa. “Meus pais por serem evangélicos nunca me aceitaram. Hoje tenho, pelo menos, o respeito do meu pai, mas antes era capaz de sentarmos numa mesa sem ele falar comigo”, relembra. Cabeleireiro, acha que ter seu trabalho e morar sozinho ajuda a ser respeitado em casa. “Tenho minha independência”, finaliza.
Em contrapartida à vida pessoal, dentro do maracatu elas são vistas como mais um integrante, com responsabilidades e deveres, sem nenhuma distinção. O fundador do Leãozinho de Itaquitinga, Mestre Zé Flor, 62 anos, diz que já teve preconceito em outras épocas, mas que isso não existe mais. “Eles têm poder de opinião dentro da agremiação e são tão belas quanto qualquer dama da corte”, simplifica. Bianca, por sua vez, brinca dizendo que só desperta ciúmes. “As mulheres acham que eu vou roubar o marido delas”, afirma, entre risos.
Encontro dos Maracatus de Baque-Solto
A cidade de Aliança, na Zona da Mata de Pernambuco, sediou o 25º Encontro Estadual dos Maracatus de Baque-Solto de Pernambuco, nesta segunda-feira (16). A festa popular deste ano homenageia dois importantes mestres da cultura, Seu Mané do Boi do Maracatu Estrela de Tracunhaém e Reginaldo Bandeirista, conhecido artesão que confecciona estandartes.
G1
Vestidos de saia rodada com mangas bufantes e adereços que brilham mais que o sol quente de Aliança, na Zona da Mata de Pernambuco, Gilvandro Teixeira, 28 anos, e Edson Sebastião, 29, são Bianca e Sandriele, da corte do Maracatu Leãozinho de Itaquitinga. “Sou a dama da rainha, a mais importante”, explica Bianca, como gosta de ser chamado. Vaidosos, ficam aguardando para se apresentar na sombra de uma pequena vendinha de água de coco, conferindo se tudo está perfeito, desafiam o calor para mostrar sua cultura mais arraigada, nordestina e africana. “Já nascemos dentro dessa tradição, está dentro de nós”, conclui Bianca.
Dançando há 12 anos as culturas da terra, como o maracatu de baque solto e o caboclinho, a paixão sempre esteve nas decisões artísticas dos dois. “Desde que me entendo por gente quis fazer isso, é mais forte, está no sangue”, diz Bianca. “Nós que fazemos tudo, escolhemos o tecido, a cor, como vamos enfeitar. Eu mesma amo vermelho”, conta Sandriele, ajeitando a barra da saia.
De uma região onde o machismo reina, o sorriso e a simpatia escondem o sofrimento dos preconceitos que foram encontrando ao longo da vida. Mais tímida, Sandriele conta que é difícil ser aceita onde vive. “Nada nunca foi fácil para mim, minha mãe me abandonou com três anos de idade e continua sem querer saber de mim, ainda mais porque sou assim, né?”, afirma.
Sandriele ainda faz questão de falar que é trabalhadora, mas que está desempregada por causa da sua sexualidade. “Eu trabalhava num hospital cuidando de velhinhos, fui demitida e hoje eu lavo [roupa] para fora”, completa.
Com o nome mudado para Bianca desde os 12 anos, a amiga também não tem nenhum apoio em casa. “Meus pais por serem evangélicos nunca me aceitaram. Hoje tenho, pelo menos, o respeito do meu pai, mas antes era capaz de sentarmos numa mesa sem ele falar comigo”, relembra. Cabeleireiro, acha que ter seu trabalho e morar sozinho ajuda a ser respeitado em casa. “Tenho minha independência”, finaliza.
Em contrapartida à vida pessoal, dentro do maracatu elas são vistas como mais um integrante, com responsabilidades e deveres, sem nenhuma distinção. O fundador do Leãozinho de Itaquitinga, Mestre Zé Flor, 62 anos, diz que já teve preconceito em outras épocas, mas que isso não existe mais. “Eles têm poder de opinião dentro da agremiação e são tão belas quanto qualquer dama da corte”, simplifica. Bianca, por sua vez, brinca dizendo que só desperta ciúmes. “As mulheres acham que eu vou roubar o marido delas”, afirma, entre risos.
Encontro dos Maracatus de Baque-Solto
A cidade de Aliança, na Zona da Mata de Pernambuco, sediou o 25º Encontro Estadual dos Maracatus de Baque-Solto de Pernambuco, nesta segunda-feira (16). A festa popular deste ano homenageia dois importantes mestres da cultura, Seu Mané do Boi do Maracatu Estrela de Tracunhaém e Reginaldo Bandeirista, conhecido artesão que confecciona estandartes.
G1