06 agosto 2014

Moradia: Negócio da urbanização avança no Recife. Enquanto em Goiana, nada sai do papel

Dois anos após euforia no mercado, JC revisita projetos anunciados em 2012

Goiana, Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho, São Lourenço da Mata e até Recife: a transformação de áreas bucólicas em zonas urbanizadas ganha velocidade longe do centro, o umbigo da capital. Nessa expansão imobiliária, a promessa de resolver gargalos urbanos é a linha de frente do mercado. Os diferentes projetos podem ou não entregar o que vendem, mas a promessa é responder às principais questões no foco do debate urbano - ciclofaixas, calçadas seguras e uma vizinhança verde para a família. Esse é o mercado do desenvolvimento urbano. Nele, metade dos projetos anunciados há dois anos continua no papel. Mas o que está em curso já mudou a paisagem e o mapa das vendas locais.

A demanda dos clientes mostra que o desejo por morar melhor não é privilégio de áreas centrais. Os complexos, inclusive, se propõem a responder às distorções do rápido crescimento do Grande Recife ao sul, com refinaria, estaleiros e dezenas de outras indústrias em Suape, a oeste, rumo à BR-232, e ao norte, rumo a Goiana, na Zona da Mata. Sem terrenos livres na capital, novas áreas viraram um produto muito conhecido em outras regiões do País e no exterior: bairros planejados. Em vez de uma ou duas torres, o porte dos projetos chega a um bairro de Boa Viagem.

Em 3 de junho de 2012, em reportagem, o JC catalogou 14 projetos, que tirariam do papel, em dez anos, 90 mil casas, lotes e apartamentos. Seria tanto imóvel que para dar conta o mercado local precisaria dobrar o volume de vendas e se manter em alta por uma década, um desafio até para a China.
Dois anos depois, a reportagem revisitou cada projeto. Por três semanas, escutou empresários, urbanistas e cidadãos. No aspecto qualidade, o "planejado" na publicidade de alguns se choca com a ausência de vida própria, o que exige mistura de moradia, lazer, comércio e serviços. O risco é reproduzir "amontoados de gente" como ocorreu na zona oeste da década de 1970, o que induziu degradação social e ambiental. Quanto aos números, mais da metade está no papel. Dois anunciam o início das obras, um está em fase de terraplenagem e quatro não têm perspectiva.

"O que estava se colocando era realmente grande para a realidade local", diz André Callou, presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi). Ele conta que, além da demanda, os projetos são literalmente complexos. E a análise lenta, na burocracia, vira arrastada.

Se em Pernambuco falar de bairros planejados é lembrar do polêmico Novo Recife, um dos que ficaram no papel, seus 10 hectares e 12 edifícios servem de medida. Ele é, de longe, o menor.

Em São Lourenço da Mata, em uma área três vezes maior, a Mata Atlântica é o apelo do Reserva São Lourenço, da Pernambuco Construtora Soft. O complexo de 64 edifícios já tem boa parte vendida e construída. Em Socorro, Jaboatão dos Guararapes, mês que vem saem as vendas do quinto condomínio do Reserva Villa Natal, com cem edifícios, parceria da MRV, especializada em projetos populares, com a Vivex, linha econômica da Moura Dubeux. Cada venda já é fechada com financiamento, diz Tony Vasconcelos, superintendente comercial da Moura Dubeux. Os dois projetos são pelo programa popular Minha Casa, Minha Vida.

Na capital, a Patrimonial Inteligência Imobiliária anuncia para o mês que vem as obras do EcoCity Jiquiá. A área de 35 hectares no entorno da Justiça Federal terá investimento de R$ 1 bilhão, segundo a empresa, na fiação embutida, ciclovias, saneamento e "calçadas de gerar inveja às dos bairros mais nobres". Serão 30 torres residenciais, seis empresariais e um shopping.

No Cabo, a pioneira Reserva do Paiva tem 550 hectares e uma praia como cartão postal. O complexo está na sexta etapa e terá 25 mil unidades, entre apartamentos, casas, flats e salas comerciais. O investimento é de R$ 5,3 bilhões. Luiz Henrique Valverde, diretor da Odebrecht Realizações Imobiliárias, afirma que projetos de implantação longa exigem capacidade de investimento, infraestrutura e estudo de cada fase, empresarial ou hotel. Além de outra preocupação: manutenção. "É preciso ter visão de longo prazo. É diferente de um projeto de quatro ou cinco anos", afirma.

As prefeituras precisam ter capacidade técnica, inclusive para lidar com a ocupação do entorno dos projetos. Perto do Paiva, já são 11 torres de até 30 andares à beira-mar de Barra de Jangada, em Jaboatão. É quase um Novo Recife, só uma das várias mudanças em curso na região metropolitana.

Fonte: JCOnline
 
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