Dois anos após euforia no mercado, JC revisita projetos anunciados em 2012
Goiana, Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho, São Lourenço da Mata e até Recife: a transformação de áreas bucólicas em zonas urbanizadas ganha velocidade longe do centro, o umbigo da capital. Nessa expansão imobiliária, a promessa de resolver gargalos urbanos é a linha de frente do mercado. Os diferentes projetos podem ou não entregar o que vendem, mas a promessa é responder às principais questões no foco do debate urbano - ciclofaixas, calçadas seguras e uma vizinhança verde para a família. Esse é o mercado do desenvolvimento urbano. Nele, metade dos projetos anunciados há dois anos continua no papel. Mas o que está em curso já mudou a paisagem e o mapa das vendas locais.
A demanda dos clientes mostra que o desejo por morar melhor não é privilégio de áreas centrais. Os complexos, inclusive, se propõem a responder às distorções do rápido crescimento do Grande Recife ao sul, com refinaria, estaleiros e dezenas de outras indústrias em Suape, a oeste, rumo à BR-232, e ao norte, rumo a Goiana, na Zona da Mata. Sem terrenos livres na capital, novas áreas viraram um produto muito conhecido em outras regiões do País e no exterior: bairros planejados. Em vez de uma ou duas torres, o porte dos projetos chega a um bairro de Boa Viagem.
Em 3 de junho de 2012, em reportagem, o JC catalogou 14 projetos, que tirariam do papel, em dez anos, 90 mil casas, lotes e apartamentos. Seria tanto imóvel que para dar conta o mercado local precisaria dobrar o volume de vendas e se manter em alta por uma década, um desafio até para a China.
Dois anos depois, a reportagem revisitou cada projeto. Por três semanas, escutou empresários, urbanistas e cidadãos. No aspecto qualidade, o "planejado" na publicidade de alguns se choca com a ausência de vida própria, o que exige mistura de moradia, lazer, comércio e serviços. O risco é reproduzir "amontoados de gente" como ocorreu na zona oeste da década de 1970, o que induziu degradação social e ambiental. Quanto aos números, mais da metade está no papel. Dois anunciam o início das obras, um está em fase de terraplenagem e quatro não têm perspectiva.
"O que estava se colocando era realmente grande para a realidade local", diz André Callou, presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi). Ele conta que, além da demanda, os projetos são literalmente complexos. E a análise lenta, na burocracia, vira arrastada.
Se em Pernambuco falar de bairros planejados é lembrar do polêmico Novo Recife, um dos que ficaram no papel, seus 10 hectares e 12 edifícios servem de medida. Ele é, de longe, o menor.
Em São Lourenço da Mata, em uma área três vezes maior, a Mata Atlântica é o apelo do Reserva São Lourenço, da Pernambuco Construtora Soft. O complexo de 64 edifícios já tem boa parte vendida e construída. Em Socorro, Jaboatão dos Guararapes, mês que vem saem as vendas do quinto condomínio do Reserva Villa Natal, com cem edifícios, parceria da MRV, especializada em projetos populares, com a Vivex, linha econômica da Moura Dubeux. Cada venda já é fechada com financiamento, diz Tony Vasconcelos, superintendente comercial da Moura Dubeux. Os dois projetos são pelo programa popular Minha Casa, Minha Vida.
Na capital, a Patrimonial Inteligência Imobiliária anuncia para o mês que vem as obras do EcoCity Jiquiá. A área de 35 hectares no entorno da Justiça Federal terá investimento de R$ 1 bilhão, segundo a empresa, na fiação embutida, ciclovias, saneamento e "calçadas de gerar inveja às dos bairros mais nobres". Serão 30 torres residenciais, seis empresariais e um shopping.
No Cabo, a pioneira Reserva do Paiva tem 550 hectares e uma praia como cartão postal. O complexo está na sexta etapa e terá 25 mil unidades, entre apartamentos, casas, flats e salas comerciais. O investimento é de R$ 5,3 bilhões. Luiz Henrique Valverde, diretor da Odebrecht Realizações Imobiliárias, afirma que projetos de implantação longa exigem capacidade de investimento, infraestrutura e estudo de cada fase, empresarial ou hotel. Além de outra preocupação: manutenção. "É preciso ter visão de longo prazo. É diferente de um projeto de quatro ou cinco anos", afirma.
As prefeituras precisam ter capacidade técnica, inclusive para lidar com a ocupação do entorno dos projetos. Perto do Paiva, já são 11 torres de até 30 andares à beira-mar de Barra de Jangada, em Jaboatão. É quase um Novo Recife, só uma das várias mudanças em curso na região metropolitana.
Fonte: JCOnline