O compromisso em São Paulo era o evento perfeito para revelar parte do fruto de meses de trabalho: o programa de governo do candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB). A conclusão do documento atrasou, mas era prevista ainda para este mês. A fim de não perder a oportunidade de detalhar a uma plateia de empresários e economistas sua plataforma econômica e de desenvolvimento para o Brasil, no Fórum Exame, da revista econômica, Eduardo, com agenda apertada, delegou a tarefa ao economista Alexandre Rands, assessor de seu programa de governo. No dia marcado, 13 de agosto, Rands contava os minutos para a apresentação, quando circularam as primeiras informações da tragédia que chocou o Brasil. O porta-voz silenciou. Na última sexta-feira, porém, ainda sob a força dos eventos, e sob a condição de se ater ao que estava autorizado a apresentar na quarta-feira, Rands topou falar sobre a parte econômica do plano de Eduardo para o Brasil. O programa está praticamente pronto e à disposição do PSB, seja qual for a decisão sobre a candidatura. Todas as medidas somam R$ 180 bilhões.
A vertente econômica e seus princípios ajudam a entender como Eduardo queria materializar os já divulgados eixos do programa de governo, muitas vezes questionados por serem muito amplos, como “democracia de alta intensidade”. “Ele percebia que esse discurso é vago e então estava se transformando agora em proposta mais completa”, explica Rands.
O ponto de partida era a gestão Eduardo em Pernambuco, onde ele criou uma rotina de metas, reuniões de monitoramento e cobrança de resultados. Alcançou mudanças na segurança pública, com o Pacto pela Vida, na educação e saúde, além de atrair investimentos da iniciativa privada em infraestrutura, a exemplo de um contrato de concessão de R$ 4,5 bilhões da Compesa com a Odebrecht Ambiental, para sanear o Grande Recife e Goiana.
Antes mesmo do início de sua primeira gestão, Eduardo entendeu que era preciso mudar a gestão pública, que via de regra protege os próprios interesses. Para isso, buscou apoio da Falconi Consultores de Resultado, que já deu suporte a vários governadores. “Eduardo se destacou de todos”, garante Vicente Falconi, fundador da consultoria. “O que ele conseguiu foram avanços substanciais”, argumenta.
Falconi ajudou Pernambuco a melhorar receitas e despesas e depois foi convidado a dar suporte a toda a primeira gestão de Eduardo, implantando as metas e monitoramento – a fazer mais, com melhor qualidade e menos dinheiro. Segundo Rands, o conceito é o mesmo do programa para o Brasil. “Mas você não faz isso sem dar os passos para que os preços tenham estabilidade independentemente do governo. A presidente Dilma Rousseff tentou avançar para uma solução de imposição, sem resolver isso, e o resultado está aí, 6,5% de inflação”, diz.
As medidas envolvem passos em sequência, da menor ingerência política nos preços ao melhor gasto público, redirecionando recursos da educação mal empregados para bancar o Passe Livre, por exemplo. “Até mesmo na lógica de que obra a fazer, se é Transposição do São Francisco ou outra, você teria critérios mais claros de investimento. Passaria a usar fortemente concessões e parcerias público-privadas (PPPs). Tiraria o setor público do que ele não pode fazer. O governo teria mais autonomia e agilidade, mudando a relação entre setor público e a sociedade”, comenta.
Rands prefere não opinar se Marina Silva vai assumir a candidatura. Mas é otimista quanto ao plano. “Essa era a base de toda a construção que Eduardo pretendia fazer. E a gente torce que seja feito”, afirma.
JCOnline