Manifestantes reivindicam retorno da linha de trem Recife-Nazaré da Mata. Malha pertencia à RFFSA e deixou de transportar passageiros nos anos 1970.
Manifestantes que batalham pela reativação da malha ferroviária entre o Recife e a Mata Norte pernambucana fizeram, neste sábado (19), uma mobilização para despertar o interesse de autoridades e da sociedade civil sobre o tema. Eles fizeram uma caminhada pelos trilhos, saindo da estação localizada no município de Carpina até Nazaré da Mata, um percurso de 13 km. O movimento, encabeçado pelo Sindicato dos Metroviários (Sindmetro-PE) e pela ONG Amigos do Trem, com apoio do Clube de Engenharia, busca dar suporte à demanda de passageiros que se deslocam diariamente entre as cidades próximas e a Região Metropolitana.
"Essa via férrea chegou a ser usada para o transporte de passageiros até meados dos anos 1970, e funcionou para o transporte de cargas até 2009", explica Diogo Moraes, presidente do Sindmetro. O trecho que o grupo pleiteia que volte a funcionar contemplaria, ao todo, sete municípios, por meio da integração entre trem e metrô. As composições sairiam da Estação Rodoviária do Recife e seguiriam por Camaragibe e São Lourenço da Mata, na RMR, além de Paudalho, Carpina, Tracunhaém e Nazaré da Mata. No total, são 73 km.
Em Carpina, a situação da linha é de abandono. A antiga estação, cravada no Centro da cidade, transformou-se em uma casa de família. Do lado de fora, é possível ver mesa, cadeiras, sofá, geladeira. No mesmo espaço, também funciona uma lan house. "Isso aqui, antigamente, era lotado de gente pela manhã. Tinha que chegar cedo para conseguir uma vaga no trem", lembra, com ar de nostalgia, o aposentado Jonas Lourenço. O amigo e também aposentado José Dias da Silva conta que conseguia complementar a renda da família vendendo água e cocada para os passageiros.
"Isso aqui era uma festa, vinha muita gente de fora. Hoje em dia, quando chega a noite, a redondeza fica insegura, há poucas pessoas nas ruas", lamenta Auxiliadora Guedes, que mora exatamente na frente da estação. Em alguns trechos da malha, é possível ver lixo e muito mato na área dos trilhos. Nas imediações da comunidade de Florestinha, mais afastada do trecho urbano de Carpina, há momentos em que nem é possível enxergar onde está a estrutura de ferro.
Um dos grupos beneficiados diretamente com a possível reativação da via férrea é o de estudantes do campus da Universidade de Pernambuco (UPE) localizado em Nazaré da Mata. Professor de geografia da instituição, Jorge Araújo explica que mais de 50% dos alunos moram no Grande Recife e a viagem na única linha de ônibus que faz o percurso entre a capital e o campus custa R$ 8,40. "Muitos se reúnem e acabam gastando R$ 200 por mês para fretar um transporte diário", afirma.
Recentemente, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) utilizou a malha ferroviária da Mata Norte para encaminhar uma locomotiva e algumas composições para o estado da Paraíba. A viagem durou cerca de seis dias, pois foi preciso trafegar com a velocidade reduzida e o trem não circulou à noite por questões de segurança. "Em condições normais, esse percurso seria vencido em 10 horas", garante André Cardoso, diretor regional da ONG Amigos do Trem. O fato despertou a atenção dos integrantes do movimento, que passaram a se mobilizar de forma mais ativa para cobrar das autoridades uma resposta sobre o futuro da via, que já chegou a fazer a ligação entre Pernambuco, Paraíba e Ceará.
Histórico
Os trilhos que ligam o Recife à Mata Norte de Pernambuco pertenciam à extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA), liquidada em dezembro de 1999. O leilão de toda a malha regional do Nordeste, um total de 4.238 km, foi vencido em 1997 pela Transnordestina Logística S.A. (TLSA), que teve direito a 25 anos de concessão.
A CBTU, operadora do sistema ferroviário, chegou a fazer viagens Recife-Carpina ainda quando a malha pertencia à RFFSA, mas hoje em dia atua apenas nos trechos Recife-Cabo de Santo Agostinho e Recife-Curado. O G1 entrou em contato com a TLSA para saber as razões da desativação da malha, se há algum plano para colocá-la novamente em funcionamento e qual seria o custo estimado desse serviço. Por meio da assessoria de imprensa, a empresa informou que não iria se pronunciar sobre o assunto.
G1