Faltando menos de três semanas para a folia, grupos reclamam da falta de interesse do município em repassar verba
As cores podem ser substituídas pelo cinza e, no lugar do frevo, o silêncio pode tomar conta das ruas de Goiana, na Zona da Mata Norte do estado, durante o período carnavalesco. Conhecida por ter um dos carnavais mais tradicionais de Pernambuco, a cidade vive incertezas quanto ao desfile das agremiações durante os quatro dias de folia. A menos de três semanas da festa, os grupos reclamam da falta de interesse do município em repassar verba e têm dificuldade de produzir fantasias e adereços.
Com 68 integrantes, o Índios Tabaraja é um mais tradicionais de Goiana. Fundado em dezembro de 1975, o grupo só tem cerca de 30% dos adereços e roupas concluídos, feitas com R$ 4,6 mil repassados pelo governo estadual. Os trabalhos de confecção, iniciados em janeiro, estão praticamente parados. Os curumins só têm os enfeites da cabeça, enquanto os outros participantes (caciques, reis, rainhas, etc) nem isso. Faltam as saias, os adereços de braço e antebraço e os da cabeça.
"Nossas penas são mais baratas e as fantasias mais descartáveis. Todo ano, fazemos tudo novo, pois também não temos sede para guardar o material, afirmou Neílton Joaquim do Carmo, 71 anos, fundador do Índios Tabajara. Apaixonado por carnaval desde os 12 anos, ele costumava produzir as próprias fantasias e sair às ruas, sozinho, para se divertir. A missão era passar uma década brincando desse jeito, para cumprir promessa em função de acidente de trânsito. Mas a brincadeira já dura 39 anos.
Detentores de cinco títulos no concurso de índios do Recife, os Tabajara já tem dois compromissos agendados para o carnaval: apresentações no Marco Zero e no polo de Chão de Estrelas, ambos no Recife. Para percorrer os cerca de 65 km que separam as duas cidades, precisam de dois ônibus. O valor do aluguel deles, segundo Neílton, é R$ 1,6 mil para os quatro dias de carnaval. Mesmo que as fantasias estivessem prontas, não teríamos como pagar o transporte, ressalta. Segundo ele, a prefeitura de Goiana havia prometido disponibilizar R$ 20 mil dividido em cinco parcelas, a começar de outubro passado, mas o dinheiro ainda não chegou.
O mesmo drama passam também os grupos de caboclinhos. O União Sete Flechas, um dos mais consagrados, teme a repetição de um filme já visto no ano passado. Em 2013, eles não deram verba. Até agora, este ano, só promessa. O que nos salva são as apresentações extra que fazemos e o dinheiro dado pela Fundarpe. Investimos nas fantasias e precisamos do resto, comentou Nelson Cândido Ferreira, 72 anos, presidente do grupo.
Com 120 integrantes, o grupo precisa de três ônibus para deslocamento e cada um deles custa R$ 700 o dia de carnaval. O faturado com as apresentações não dá. Hoje em dia, se não gastar, a gente não brinca, contou Nelson Cândido Ferreira.
A Secretaria de Turismo de Goiana garantiu que as agremiações irão receber verba para finalizar as fantasias e realizar desfiles e viagens antes do carnaval. Segundo o secretário Raul Almeida Júnior, um convênio foi firmado, na última semana, com a Associação de Caboclinhos do município. No documento foi estabelecida uma tabela de valores de acordo com a necessidade de cada agremiação e foi definido que o pagamento ocorrerá em duas parcelas. Metade antes do carnaval, nesta semana, e o resto na semana pós-folia.
Segundo ele, o convênio foi definido a partir de projeto de lei de subvenção votado na Câmara dos Vereadores local.
Diário de Pernambuco
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