A Prefeitura de Goiana já liberou R$ 7,9 milhões para dez obras que nunca foram entregues à população
A vegetação cresceu entre os pilares do que era para ser o Ginásio Poliesportivo do distrito de Tejucupapo, no município de Goiana, zona da mata norte de Pernambuco. Um abandono acompanhado por Lenira Maria Augusta da janela de casa. Ela mora em frente à obra que está prestes a completar seis anos sem que nem 50% tenha sido executada. “Aqui tem muita criança e não temos quadra, nem mesmo um parque. Seria interessante que tivessem terminado, mas isso aí virou foi uma bocada. Dá até medo de ficar em frente de casa de noite”, denunciou.
Dona Lenira chegou a acompanhar a equipe de reportagem ao local para mostrar a placa, que caiu e chama atenção para o valor. São R$ 1,4 milhão. “É muito dinheiro, né?!”, exclama. Esse montante é apenas parte dos R$ 7.997.714,97 liberados para a Prefeitura de Goiana que tiveram como destino obras que nunca foram concluídas. São dez ao todo. Além da quadra, consta, ainda a reforma da escola Adélia Carneiro Pedrosa, no Povoado de São Lourenço.
A proposta era que parte do prédio desta escola fosse demolida para o local ser ampliado. O projeto previa 12 salas para atender os mais de 700 alunos. Apenas quatro salas funcionam hoje e os traços de má conservação são gritantes. Para dar conta da demanda, foram criados 11 anexos espalhados pelo pela pequena comunidade quilombola. Há casos de bares e armazéns que foram alugados pela prefeitura e hoje servem como sala de aula. A merenda chega em carro de mão.
“Faz três anos que está isso aí. Tem criança que nem sabe mais o nome da escola. Acha estuda na casa de um ou de outro”, disse a mãe de um dos alunos, Lígia Felipe dos Santos. Conforme dados do Tribunal de Contas do Estado (TCE), foram pagos para a reforma que nunca saiu do papel, R$ 180.516,50.
Mudança de gestão x Continuidade
Uma das principais respostas para o abandono de diversas obras é a mudança de gestão. E os moradores de Goiana correm o risco de testemunharem essa história. No início do ano um novo prefeito assumiu a cidade. Do antecessor, foram herdadas as 10 obras incompletas ou paralisadas listadas pelo TCE. À reportagem, a secretária de Obras, Simone Lucchese, informou que não dará continuidade à maioria delas.
“Pelo menos cinco dessas obras estão com convênios de 2007. Os cinco anos do prazo já se passaram. Teríamos como conseguir um ano adicional, mas não seria suficiente para terminá-las”, disse. Ela destacou, ainda, que para seguir o trabalho seriam necessários reajustes de preços. “Tem obra com apenas 30% executado. É o caso da quadra de Tejucupapo. Os preços estão defasados”, completou, declarando que seria necessário um novo projeto.
De acordo com ela, uma saída que se estuda para essa obra, e outras obras, é fazer, no futuro, com recursos próprios, o que é incerto, uma vez que passa a depender de disponibilidade de caixa. Sobre a escola Adélia Carneiro, a secretária afirmou que há um compromisso da prefeitura em concluí-la. Serão usados, para isso, recursos do Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM).
A revisão dos dados originais e a expectativa sobre recursos futuros também foi citada por ela ao falar da construção de um pátio de feira. Esta obra, de R$ 1.446.816,59, no entanto, é mais recente e um cadastramento dos feirantes havia sido feito no ano passado. “Não vamos dar continuidade à feira porque precisa de outro projeto. A gente não vai confiar em um cadastramento que não foi feito pela nossa gestão”.
DiariodePernambuco