Iniciamos a partir de hoje nossas atividades como colunista do Blog do Anderson Pereira e nosso primeiro artigo fala sobre as manifestações ocorridas em junho: Nos últimos dois meses diversos jornalistas, pensadores e cientistas sociais tem se debruçado sobre as manifestações ocorridas em junho. Muito se fala e se escreve sobre essa movimentação popular, mas ainda não há um consenso quanto os rumos dessas jornadas sociais.
Elas nasceram de protesto conduzido pelo Movimento Passe Livre, que reivindicava redução de tarifas para o transporte público na cidade de São Paulo e uma discussão sobre questões ligadas a mobilidade urbana na capital paulista.
Inicialmente o movimento foi rechaçado pela mídia ultraconservadora e sofreu uma forte repressão policial, apesar do caráter meramente reivindicatório de seus protestos. Tampouco o prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) deram importância ao movimento que já começava a crescer e tomar as ruas.
Isso fez com que as manifestações crescessem como um rastilho de pólvora, e se espalhasse por diversas capitais do país. A mídia direitista (tendo as Organizações Globo à frente), pega de surpresa, passou a simular um apoio discreto ao movimento. Pura esperteza: afinal a mídia ultraconservadora, que sempre criminalizou os movimentos sociais, nunca teve interesse em apoiar nenhum tipo de manifestação. O que esse tipo de mídia percebeu foi o perfil difuso e já sem controle dessas manifestações, e tentou capturá-las para seus propósitos e para a defesa de bandeiras típicas das elites conservadoras.
Aproveitando-se de um sentimento de repulsa aos partidos e lideranças políticas, a mídia tentou potencializar essa repulsa de forma ainda maior contra os partidos e movimentos de esquerda (e em especial contra o PT). Afinal, após sucessivas derrotas eleitorais nas eleições presidenciais desde 2002, os principais veículos de imprensa resolveram assumir o papel de partido de oposição e promover um desgaste do governo Dilma Rousseff, a fim de garantir que a oposição de centro-direita pudesse chegar em 2014 com chances reais de interromper o período de governos “lulo-petistas”, que é a forma como a mídia de forma debochada se dirige ao ciclo de governos petistas iniciado pelo ex-presidente Lula da Silva.
Assumindo a já manjada e surrada bandeira da moralidade e do combate a corrupção (que desfraldam desde 1954, quando levaram o presidente Vargas ao suicídio, e dez anos mais tarde ao golpe militar contra o presidente João Goulart), os meios de comunicação de direita tentaram potencializar o desgaste do PT. O que não conseguiram mesmo manipulando o julgamento do chamado “mensalão”, que levou a condenação, sem provas, de figuras de proa do núcleo político do PT, em especial o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente nacional do partido, o deputado José Genoíno (PT-SP).
A questão é que os meios de comunicação de direita, porta-vozes de longa data do poder econômico e das elites oligárquicas, não tem se conformado com as mudanças sociais promovidas pelos governos trabalhistas comandados pelo PT. Apesar de garantirem apenas tímidos e lentos avanços sociais, esses governos tem reduzido gradativamente a miséria num pais que ainda não conseguiu resgatar sua enorme divida social com negros e índios escravizados, e com os pobres secularmente explorados.
Não é por outra razão que esses meios de comunicação combatem toda e qualquer iniciativa governamental ou política social de inclusão e de resgate da cidadania e das injustiças seculares, como por exemplo, o Programa Bolsa Família ou o Pro-Uni (que garante acesso à universidade aos jovens de famílias mais pobres). E como se a voz da casa-grande quisesse voltar a falar mais grosso e a calar e sufocar o grito da senzala, e evitar que o povo se emancipe.
A questão é que os meios de comunicação de direita, porta-vozes de longa data do poder econômico e das elites oligárquicas, não tem se conformado com as mudanças sociais promovidas pelos governos trabalhistas comandados pelo PT. Apesar de garantirem apenas tímidos e lentos avanços sociais, esses governos tem reduzido gradativamente a miséria num pais que ainda não conseguiu resgatar sua enorme divida social com negros e índios escravizados, e com os pobres secularmente explorados.
Não é por outra razão que esses meios de comunicação combatem toda e qualquer iniciativa governamental ou política social de inclusão e de resgate da cidadania e das injustiças seculares, como por exemplo, o Programa Bolsa Família ou o Pro-Uni (que garante acesso à universidade aos jovens de famílias mais pobres). E como se a voz da casa-grande quisesse voltar a falar mais grosso e a calar e sufocar o grito da senzala, e evitar que o povo se emancipe.
Para desconsolo de muitos a direita conseguiu impor algumas pautas de sua agenda. E aqui e acolá pintou com cores mais conservadoras as manifestações de junho. Mesmo assim não conseguiu reeditar movimentos reacionários, como a indefectível “marcha com Deus”, que brandindo anticomunismo e moralismo ultraconservador conseguiu derrubar um governo constitucionalmente legitimo, e impor uma ditadura militar, que representou 21 longos anos de retrocesso político e social (com prisões, torturas e até assassinatos de lideranças políticas contrarias ao arbítrio, ao autoritarismo e ao terrorismo de Estado).
Entretanto colocou a presidente Dilma na defensiva, mas isso foi o máximo que conseguiu. Pois não logrou alavancar nenhuma candidatura do bloco conservador, já que o mineiro Aécio Neves (PSDB-MG) continua a patinar com pífios índices de intenção de voto, mesmo com a vertiginosa queda de popularidade da presidente Dilma (que agora o inicio de agosto já começa recuperar terreno). O que obrigou o periódico global The Economist, de linha extremamente conservadora, a admitir que a presidente Dilma deve voltar a vencer em 2014 por absoluta incompetência e falta de confiabilidade (e de nomes) da oposição de direita.
A contragosto The Economist enxerga uma nova vitória de Dilma. Mas isso não indica que a direita saiu-se totalmente derrotada. Ate porque a presidente teve que alinhavar uma política fiscal ainda mais rígida e a fazer concessões ao rentismo ao aumentar a taxa básica de juros, para se prevenir contra uma alta na inflação que nunca foi uma ameaça real, exceto nos alarmistas “balanços” e “previsões” dos jornalões e revistas de direita.
Dilma talvez tenha que fazer mais concessões ao bloco conservador para se reeleger em 2014. E isso pode sim resultar em retrocessos aos poucos e mínimos avanços até aqui alcançados.
Por isso é hora das forças de esquerda e dos movimentos sociais progressistas fazerem uma profunda análise e reflexão sobre esse momento pelo qual o pais esta passando. Afinal estamos a viver um contexto de disputa ideológica, e a esquerda tem que estar forte e unida para alcançar essa travessia, e garantir que conquistas e avanços não sejam sacrificados pelos que sempre combateram avanços em favor do povo e da classe trabalhadora.
Se ao que tudo indica o modelo lulista de conciliação de classes (herança do trabalhismo getulista, com colorações petistas) e de “modernização” sem ruptura (com o capital financeiro) parece ter chegado ao seu gargalo.
Importante é avançar e não retroceder. E não nos iludamos, só poderemos avançar indo para o embate com forças que nunca estiveram do nosso lado, e que costumeiramente ate nos reprimiram a maior parte do tempo.
De nossa reflexão dependem nossos próximos passos. E esses passos não podem ser em falso, sob pena das portas da senzala e da escravidão voltarem a se abrir e se fechar para o povo, pelas mãos das mesmas elites (da casa-grande) que no período colonial eram contra a libertação dos escravos, e que os dias de hoje ainda não vêem com bons olhos políticas de redução de miséria e das desigualdades sociais que continuam a aprisionar milhões e a condenar as massas à pobreza e ignorância.
Isidoro Guedes é sociólogo, educador e gestor público. Foi colunista de política do jornal A Província e é ex-secretário de Saúde do município de Goiana (vencedor do prêmio “Gestão em Saúde”, versão 2010, pela Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS) - isidoroguedes@yahoo.com.br.