30 julho 2013

Problemas: Goiana vive entre a agonia e a prosperidade

Arrecadação não dá para melhorar a infraestrutura para receber trabalhadores

Goiana, município da Zona da Mata Norte, vive hoje um dilema com a chegada de grandes empreendimentos e a formação de importantes polos econômicos como o automotivo, vidreiro e o farmacoquímico. Os investimentos bilionários que prometem mudar a base da economia, culturalmente voltada para o agronegócio, para uma estrutura moderna e industrial, contrastam comum a cidade que tem problemas sociais e de infraestrutura históricos. As mazelas deixam evidente que a região não foi preparada para o futuro que lhe está reservado.

Assim como aconteceu em cidades pequenas que se transformaram em polos industriais, Goiana começa a receber milhares de trabalhadores com salários razoáveis, mas que não encontram acomodação, hospitais ou escolas em condições viáveis. Por isso, a preocupação para que não ocorra o mesmo que há em Ipojuca e no Cabo, onde as melhorias dos municípios não condizem com o faturamento das indústrias e as arrecadações.

Com poucos recursos - média mensal de R$ 7 milhões -, a gestão municipal dificilmente atenuará os problemas a curto prazo, principalmente quando a Fiat começar a produzir os primeiros automóveis em 2015. Esgoto correndo pelas ruas, problemas no abastecimento de água, falta de habitação, trânsito caótico e hospital sucateado fazem parte da mesma Goiana onde acontece a manipulação de plasma e a produção de medicamentos.

Têm-se então duas cidades: uma próspera às margens da BR-101, e outra que pede socorro. O medo dos cidadãos é que a situação piore com o passar do tempo. Não é preciso andar muito para entender o receio da população.

Na rua Estrada Velha do Condado, que corta os bairros de Nova Goiana e Mutirão, por exemplo, a água suja que escorre pela via vem das casas que não são interligadas ao sistema de coleta e tratamento de esgoto.

“Além do mau cheiro, tem as doenças que surgem por causa dessa sujeira. Moro aqui há 29 anos e nunca fizeram nada para melhorar. Com a chegada de mais pessoas, a situação tende a piorar”, lamenta o tratorista Severino Mendes.

No mesmo logradouro, a dona de casa Maria do Carmo Filha convive com a irregularidade do abastecimento de água e o acúmulo de lixo em frente à sua casa. Cansada dos problemas, ela está se preparando para mudar de endereço. “Aqui tudo aumentou de preço depois do anúncio da Fiat e nada melhorou. Quanto ao lixo, a prefeitura até que recolhe, mas as pessoas sujam tudo. Está muito difícil viver aqui”, reclama.

No Centro de Goiana, o comércio das calçadas já invade de parte das ruas, tumultuando o trânsito. Os feirantes Ednaldo Joaquim do Carmo e Ana Karina Machado apelam para o bom senso. “Faz tempo que essa situação está ruim, mas vem piorando. Eu acho que, com essas empresas operando, a situação vai melhorar, porque senão Goiana vai ser um local impossível de viver”, diz Ednaldo.
Mudanças na cidade exigem urgência

O grande desafio de Goiana é promover o desenvolvimento sustentável. Os aportes de mais de R$ 8,3 bilhões capitaneados pela Companhia Brasileira de Vidros Planos (CBVP), a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) e a Fiat são ofuscados por dados preocupantes que fazem parte de um estudo realizado pelo Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/Fiocruz. O levantamento constata os graves problemas de infraestrutura e de serviços básicos.

O estudo destaca que 46,9% dos mais de 75 mil goianenses estão inscritos no Bolsa Família. O programa do Governo Federal é voltado para famílias com renda per capita de até R$ 140 por mês. Além disso, a taxa de analfabetismo na cidade é quase o dobro da brasileira (9,7%). Na Zona Rural, o índice chega a 52%. O relatório ainda aponta que somente 24% dos domicílios têm rede de esgoto e 60% despejam seus dejetos em fossas rudimentares.

O economista e coordenador do curso de Administração da Faculdade Guararapes, Aluísio Gondim, lembra que o processo de desenvolvimento de Goiana está ocorrendo há três anos e há necessidade urgente de políticas públicas que preparem a sociedade para a nova conjuntura econômica. “Se Goiana quiser evitar o que vem acontecendo com o Cabo e Ipojuca, a hora é essa. A mudança é radical, mas é possível que as pessoas absorvam melhor o crescimento, se forem dadas condições básicas para isso”, afirma.

O professor diz que futuramente pode acontecer o êxodo interno dentro do Estado, caso não haja mudança nos serviços públicos e na infraestrutura da cidade. “Chegarão mais pessoas preparadas e capazes de usufruir do crescimento, enquanto que os que pertencem ao município, desassistidos, sejam expulsos da sua terra”, alerta Gondim.

O empresário Artur Soares é mais otimista em relação ao futuro de Goiana e sua população. “É verdade que há novas demandas e novas exigências, mas isso é natural. Estamos vivendo um processo de transição e nos adaptando a uma nova situação financeira e empresarial”, argumenta.

Situação de Ipojuca e Cabo serve de lição

Exatamente há 30 anos, o Porto de Suape começou a operar efetivamente, com a movimentação de álcool pela Petrobras. Na década de 1990, o terminal logo foi incluído na lista dos 11 portos prioritários do País. De lá para cá, o crescimento levou ao Complexo Industrial Portuário que temos hoje. Entretanto, Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho não foram céleres na modernização e preparação de suas infraestruturas para receber tanta gente atraída pelos empreendimentos.

A riqueza produzida no litoral do Cabo de Santo Agostinho tem um custo alto para quem mora ou trabalha no município. Boas oportunidades de emprego tanto na indústria quanto no comércio e no serviço, contrastam com as péssimas condições sociais. Mesmo contabilizando uma receita, só em 2012, superior a R$ 395 milhões, quem vive na cidade reclama da falta de saneamento, do trânsito e da dificuldade de acessar serviços básicos como o de saúde devido à alta demanda.

Ipojuca tem hoje a segunda maior arrecadação do Estado e mesmo assim deixa a desejar nos serviços públicos, segundo os moradores. Além do trânsito e dos problemas de infraestrutura, a falta de segurança é uma grande preocupação para quem mora ou trabalha lá. “O crescimento da demanda de moradores não foi acompanhada pela ampliação do efetivo de servidores públicos, especialmente da polícia”, conta a comerciante Maria Rosália de Jesus.

FolhaPE
 
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