"Olinda é a sede dos meus sonhos, minha morada por opção"
O músico Juliano Holanda, 35, é dos poucos de sua geração que devota o mesmo zelo às letras e aos acordes. Incansável, acaba de lançar o disco A arte de ser invisível, depois de compor e tocar para muitos artistas. No papo com Bruna Cabral, fala de música e de sua geografia afetiva.
JC – Quando e como música virou trabalho?
JULIANO HOLANDA – Comecei a tocar com 9 anos, meio por curiosidade e influência dos meus pais. Aos 13, já era um executante razoável. Mas sempre achei que seria publicitário. Aos poucos, fui sendo requisitado para alguns trabalhos. Me perceber como artista, durante um tempo, foi muito difícil. Quando me dei conta, já estava sendo pago e assumindo obrigações profissionais. As demandas foram acontecendo e me vi sendo arrastado por uma correnteza contra a qual nunca lutei. Sabia que ela me levaria a um lugar legal.
JC – Letrista, compositor arranjador, produtor, instrumentista, cantor, o que gosta mais de ser?
JULIANO – Tudo isso junto. Mas o momento da composição, o instante criativo é o que mais me seduz.
JC – Resta alguma hora vaga? O que você costuma fazer quando não tem nada para fazer?
JULIANO – Quando não há tempo vago, é preciso inventar um. Nos dias de folga: família, amigos, cinema e literatura. Gosto de conversar, tocar violão com colegas, assistir a documentários e ler de tudo, principalmente poesia e biografias.
JC – Junk food ou saladinha folhosa?
JULIANO – Alterno entre períodos bem ligth e bastante heavy na busca pela perfeita simbiose entre o alface e a goiabada.
JC – Junk food ou saladinha folhosa?
JULIANO – Alterno entre períodos bem ligth e bastante heavy na busca pela perfeita simbiose entre o alface e a goiabada.
JC – Dizem as más línguas que Coca-Cola é seu pior vício. Confere?
JULIANO – Nunca consumi bebidas alcoólicas nem cigarros. Como pouca ou nenhuma carne vermelha. E larguei o hábito da Coca-Cola. Atualmente, acho que dormir é meu pior vício. Se ninguém me acordar, penso que posso continuar dormindo por uns três dias.
JC – Já viajou meio mundo com sua viola embaixo do braço. Que lugares o encantaram?
JULIANO – Cada lugar tem seu charme específico. Todo pernambucano deveria conhecer o Pajeú, por exemplo. É um lugar mágico, repleto de poesia e sinceridade. Muito do melhor que nós somos, como nordestinos e brasileiros, está adensado na cultura daquela região. No exterior, gosto de Nova Iorque porque é uma espécie de universo paralelo. Um lugar mítico que te dá uma sensação de desligamento do tempo e do espaço atual. Tudo permanece congelado, estático e, ao mesmo tempo, muito veloz e descontrolado. Gosto também de Portugal, que é como estar estrangeiro em sua própria casa.
JC – Você nasceu em Goiana. Sente falta da calma do interior?
JULIANO – Goiana é incrível, assim como toda a Zona da Mata Norte. É uma região que tem sido explorada equivocadamente nas últimas décadas. A cidade tem forte tradição musical, além de um imaginário popular riquíssimo. Gostaria de, em algum momento da vida, voltar a morar lá. Outra cidade com a qual tenho uma relação forte é Carpina. Foi onde minha mulher nasceu e temos muitos amigos e parentes lá. Sempre que temos tempo livre, vamos a Goiana ou a Carpina, recarregar as baterias.
JC – O Recife tem pisado em seus espinhos?
JC – O Recife tem pisado em seus espinhos?
JULIANO – É minha alegria e meu carma. Olinda é a sede dos meus sonhos, minha morada por opção. São cidades que gosto de chamar de lar. São a varanda e o quintal da minha casa. Carpina é o meu teto, Goiana é meu chão. Recife e Olinda são a porta e a janela.
Por Bruna Cabral/Jornal do Commercio