21 abril 2013

Goiana: O tempero da mudança

Colocar mais água no feijão não foi suficiente. A solução encontrada por Célia Ferreira para adequar o cardápio do Restaurante e Pousada Japumim, em Goiana, aos novos tempos e ao crescimento do fluxo de clientes foi tirar o coentro e o cominho e investir mais na cebola e no alho. Os goianenses não reclamaram. E o pessoal de fora agradeceu. Por dia, o restaurante de Célia serve mais de 300 refeições. “Fora as marmitex”, reforça a empreendedora, que conhece todo mundo e chama pelo nome. Se ela não conhece, não tem problema. “Chamo de filé”.

Célia diz que o movimento começou a aumentar quando foram iniciadas as obras da Hemobrás. E só fizeram crescer. O Grupo Cornélio Brennand ergue ao lado da Hemobrás a Companhia Brasileira de Vidros Planos (CBVP), com investimentos de R$ 770 milhões, e deve começar a operar ainda em 2013, gerando cerca de 370 novos empregos diretos e mais de 1,5 mil indiretos. “Agora tem a Fiat. Recebemos do empresário ao peão.” Com mais gente frequentando o Japumim, a empreendedora reforçou o quadro de funcionários, contratando mais quatro trabalhadores. O próximo passo de Célia é colocar ar-condicionado no restaurante e “dar uma ajeitada no ambiente”.

A loja do Boticário, no centro de Goiana, não precisa investir em climatização. Também se beneficia com o aumento do fluxo de pessoas. “A meta é crescer 30%. Mas tivemos um aumento médio nas vendas de 45%”, conta a gerente da loja, Mylena Pedroza. Não é só no caixa que a mudança é sentida. A gerente diz que o perfil do cliente que frequenta o local também mudou. Ele está mais exigente.

“Aumentou muito a presença de gente de fora. Temos clientes de Minas Gerais, da Bahia. Tem até um gringo.” Mas o reflexo não é sentido apenas em Goiana. Os donos da franquia também abriram lojas em dois municípios da região: Condado e Caaporã (PB). Na loja de roupas vizinha à perfumaria, a gerente, Isabel Domingos, não quer falar sobre vendas ou lucro. “Vocês não falar sobre o preço dos imóveis? Está um absurdo.” A família de Isabel vive o lado perverso da chegada de tantos empreendimentos na cidade: a especulação imobiliária.

Há seis anos, Isabel e a filha deixaram o Recife para morar em Goiana. “Meu marido trabalha na Usina Santa Teresa e viemos para ficar com ele.” A família está à procura de um novo lar. O preço do aluguel da casa onde moram passou de R$ 500 para R$ 1,2 mil. “Agora, recebi a notificação de que temos de sair. Eles preferem alugar para empresas, porque conseguem cobrar um aluguel mais caro.” Isabel conta que foi até o Northville, bairro planejado de R$ 1 bilhão que o consórcio Paradigma está construindo às margens da PE-075.

As vendas foram iniciadas em março. O projeto total prevê 2,2 mil residências. A primeira etapa terá pouco mais de 200. Haverá prédios e casas isoladas. “Estava a partir de R$ 147 mil. Não podemos pagar”, conta Isabel. O Northville também contará com áreas comerciais, shopping, centro de saúde, escola, hotel. Lindualdo Teixeira Mendes, 30 anos, mora no bairro Bela Vista 1, bem ao lado do futuro Northville. Ele faz as pedras para o calçamento. “Se você olhar pra lá dá pra ver onde moro”, aponta o rapaz.

Durante cinco anos, Lindualdo trabalhou na Usina Cruangi, parada desde o ano passado. “Agora está melhor.” Casado, pai de dois filhos, ele ganha R$ 751 por mês. Mais do que quando trabalhava na usina. “Quem sabe eu não me torno um dos moradores daqui?”, sonha o ajudante de pedreiro. (T.N.)

Diário de Pernambuco
 
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