Que os empreendimentos e os benefícios são grandes, não há como negar. No entanto, a construção das cidades planejadas gera controvérsias. Ao lado dos investimentos feitos, existem preocupações sobre o impacto que as cidades pequenas sofrerão, seja na infraestrutura, nas áreas comerciais, na segurança ou na cultura. Para a professora do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco, Suely Leal, esses empreendimentos que são feitos de modo impactante pelo mercado imobiliário podem afetar negativamente a urbanização que já existe. “A necessidade de que o município se prepare para receber esses investimentos imobiliários é muito importante. É preciso pensar na sustentabilidade ambiental e social e, principalmente, não reproduzir um modelo do que acontece em grandes metrópoles”, destacou.
As mudanças já vêm sendo sentidas pela população de Goiana, que receberá dois dos nove empreendimentos que estão sendo projetados. Rosivaldo de Castro trabalha em uma loja de calçados que existe há 40 anos no centro da cidade. “Goiana não está preparada para receber esses tipos de empreendimentos. Ainda precisamos de muitas melhorias, em áreas como segurança, saúde e higiene. Embora se fale muito em expansão e crescimento, o que vemos é uma cidade inchada, com preços de aluguéis altos. Quem é de fora não sente tanto, mas quem é daqui sai no prejuízo. Perspectivas, melhoras, existem. Mas, na prática, é muito pouco. A gente espera que cresça, porque isso é melhor pra todos nós“, detalhou o comerciante.
De acordo com Suely, é preciso elaborar planos que integrem o que existe na cidade. “Eu acho que não há disponibilidade do mercado imobiliário de respeitar o que as cidades têm. Goiana, por exemplo, tem um centro histórico, um fluxo intermediário de pessoas, e agora vai ter um fluxo maior, determinado pela demanda atual. O mercado não considera essa necessidade de harmonia e acabam colocando os conjuntos habitacionais distantes da cultura e da arquitetura local, e esses espaços ficam desconectados da cidade, descaracterizando o espaço que já existe”, afirmou a professora.