Local que chamou atenção por causa de fonte misteriosa tem grupo que luta para preservar sua história
Nesta semana as atenções se voltaram para o distrito de Tejucupapo, em Goiana. Foi lá que, do dia para a noite, uma fonte de água mineral começou a jorrar um líquido com cor de sangue. Clique aqui e veja! O mistério ainda não foi solucionado, mas o caso acabou trazendo de volta às manchetes um local conhecido por um importante episódio do século 17. Em 1646, quatro mulheres lideraram a resistência do distrito frente aos invasores holandeses. Com tachos cheios de água fervente e pimenta, elas conseguiram vencer a batalha jogando a mistura nos olhos dos militares. O episódio ficou conhecido como a “Epopeia das heroínas de Tejucupapo”. É difícil de acreditar, mas muita gente do próprio distrito ainda desconhece o feito.
Para evitar que os mais jovens cresçam sem saber da história de Tejucupapo, a aposentada Luzia Maria da Silva, 65 anos, tornou-se guardiã das heroínas na cidade, com título dado pelo Exército e tudo. O assunto faz parte de sua vida há cerca de 30 anos, quando ela decidiu resgatá-lo. Com a força de uma verdadeira heroína, Luzia é uma das organizadoras da peça que reconta o feito das mulheres do distrito. A encenação acontece uma vez por ano, desde 1993, sempre no último domingo de abril. Criar a peça foi uma necessidade.
Assim como na Tejucupapo de 1646, a maioria da população ainda é formada por pescadores e agricultores. O analfabetismo na região é alto é só a cultura oral pode manter vivo esse capítulo importante da história pernambucana.
O espetáculo é simples e didático. Noventa por cento do elenco são formados justamente por mulheres de Tejucupapo - agricultoras, pescadoras e donas de casa. Severina Brito, 79, encarna a personagem Joaquina, uma das mulheres que lideraram a resistência, juntamente com Maria Camarão, Maria Quitéria e Maria Clara. “Faço o papel desde que a peça começou. É uma personagem importante. Às vezes acho que vou parar por causa da idade, mas quando encarno Joaquina ganho fôlego novo”, garantiu.
Luzia, a guardiã, também procura resgatar a autoestima das mulheres. “Aqui, tem muita mulher que não abaixa o lombo para homem bater, não”, comentou às gargalhadas. Na Associação Heroínas de Tejucupapo, da qual é vice-presidente, ela organiza oficinas culturais e sociais. Lá, 30 associadas aprendem a fazer crochê, bordado, pintura e material de limpeza. Algumas oficinas são bancadas com dinheiro do filho de Luzia.
“Gostaria muito que um investidor ou patrocinador pudesse nos ajudar”, disse. Será mais uma batalha para as mulheres de Tejucupapo.
Por Mirella Marques do Diário de Pernambuco
Foto: Arquivo/Blog do Anderson Pereira