A doação de um terreno de 2.790m² pela Prefeitura de Carpina (Mata Norte) a uma concessionária de veículos levou dois vereadores de oposição a entrar com representação no Ministério Público de Pernambuco contra a operação. Marta Guerra (PMDB) e Charles Meira (PRB) questionam o fato de o Projeto de Lei 008/2011 ter sido apresentado pelo prefeito Manuel Botafogo (PSDB) em regime de "urgência urgentíssima", apesar de não estar voltado a uma obra pública. Defendem que a área deveria ser destinada à habitação popular.
O projeto foi apresentado sete dias atrás, quatro dias depois de elaborado pela prefeitura. Em mensagem anexada ao texto, o prefeito justifica que a Nova Veículos será "um indutor do desenvolvimento econômico do município, gerando novos empregos e, ainda, novo captador de tributos". Cinco dos nove vereadores votantes aprovaram a medida, um foi contrário e três abstiveram-se. Entre as condições para a instalação, está garantir 60% dos 68 postos de trabalho da concessionária para moradores da cidade. Se a empresa cumprir os requisitos, em 20 anos terá a posse definitiva do terreno.
Um dos sócios da empresa é Marinaldo Rosendo (PSB), prefeito de Timbaúba, município próximo. Já existe uma loja da Nova Veículos na cidade, que será demolida por ficar no trajeto da duplicação da BR-408. A vereadora Marta Guerra argumenta que, como a matriz fica em Timbaúba, os impostos não irão para Carpina. "Nao houve critério. Deveria ter havido leilão público." Ela retirou-se da Câmara na votação.
A peemedebista considera pouco razoável que se doe terreno a uma empresa que, segundo ela, "tem faturamento de R$ 600 milhões por ano". Ao mesmo tempo, diz que o prefeito prometeu construir uma feira e casas populares no local. O terreno fica às margens da PE-90, numa área valorizada pelo comércio.
Para o vereador Cláudio do Gesso (PSDB), que apoia o prefeito, a oposição persegue Manuel Botafogo. "Tudo bem que ele não é santo, mas só porque o cara é preto e pedreiro querem derrubá-lo", crê.
Botafogo diz que seu propósito foi apenas o de "aumentar o emprego e a renda no município". "Eu e Marinaldo nem somos aliados." Ele garante que construirá uma escola em outra parte do terreno, que não foi doada. "Não sei quando, mas será neste mandato", afirma. O JC tentou contato com Marinaldo Rosendo mas um assessor informou que ele está viajando e só poderá falar amanhã, quando retorna a Timbaúba.
Jornal do Commercio
Edição de 20 de Setembro de 2011