Sob vigilância ostensiva, multidão emocionada lembra dez anos do 11 de Setembro nos EUA
Foi uma vigília nada festiva. Nova York relembrou seu mais longo dos dias, o 11 de setembro de 2001, com a angústia de quem perdeu muito e ainda pode perder mais.
Apesar das ameaças de ataques terroristas na cidade e em Washington, os nova-iorquinos acordaram no 11 de setembro de 2011 decididos a enfrentar em peso o clima paranoico e as lembranças amargas da tragédia ocorrida dez anos atrás.
Na baixa Manhattan, região onde ocorreram os atentados, multidão calculada em dois milhões, pela polícia de Nova York, cercaram a área perto da cerimônia em homenagem às 2.977 vítimas dos atentados ao World Trade Center.
Impossível confundir a manifestação desse domingo com qualquer evento turístico. A francesa Ruth Lacorro, 42, visitava a cidade e decidiu ir às vizinhanças do World Trade Center. Disse ao R7 que estava ali apenas para prestar homenagem a seus anfitriões.
- Eu achei que tinha uma dívida de gratidão com esta cidade que me recebe e que perdeu tanto há dez anos. Foi por isso que decidi vir aqui. Não queria ver espetáculo, nem o canteiro de obras. Vim aqui para colocar uma fita na cerca da Igreja de St. John, com dizeres encorajando a paz.
O mesmo tributo não atraiu tantos brasileiros. Pelas vizinhanças do local onde se realizaram as cerimônias, os únicos brasileiros encontrados pelo R7 eram aqueles que estavam trabalhando na imprensa. Fora dali, mais ao norte onde fica a região central, a mineira Adelaide Ramos 38, disse que não chegaria nem perto do evento.
- Com tanta polícia, gente armada e cachorros, eu é que não vou para o lugar onde os terroristas têm mais interesse em atacar. Acho que dá para sentir o clima desse dia fúnebre daqui mesmo em Times Square.
Vigilância
Dias antes a cidade já parecia sitiada. Os 34 mil policiais de seu departamento, incluindo os 1.500 dedicados especialmente ao esquadrão contraterrorismo, tomaram as ruas como força invasora. O patrulhamento normalmente robusto foi ainda mais reforçado.
A procura por bombas não se limitou aos veículos em pontes e túneis – alvos considerados prováveis num novo ataque. Vasculhavam também as bolsas, sacolas e até carrinhos de bebês. Era impossível caminhar mais de dois quarteirões na área do centro financeiro nova-iorquino sem passar por barreiras bem guardadas.
Isso, porém, não impediu que um exército de excêntricos cercasse o local dos tributos. Os mais variados tipos esdrúxulos desfilavam suas esquisitices. Era gente carregando enormes cruzes de madeira, placas com dizeres incongruentes, fantasiados de mártires, profetas, Tio Sam, Estátua da Liberdade, e heróis de histórias em quadrinhos. E estes eram apenas os mais calmos.
Havia até uma manifestação de lunáticos comemorando as mortes ocorridas nos ataques de 2001. Cantaram “parabéns a você” e gritaram slogans dizendo os Estados Unidos havia sido punido. Fizeram sua manifestação de modo estridente, em local cercado especialmente para eles, mas não foram importunados por mais do que olhares duros do restante do público.
Para quem não tinha convite especial para entrar na área do Marco Zero (onde ficavam as Torres Gêmeas), o jeito foi caminhar à esmo pelos arredores. Telões instalados dentro da zona de segurança serviram de pouco consolo para aqueles que desejavam ver o que estava acontecendo na cerimônia. Como disse ao R7 a nova-iorquina Margareth Carter, 32, quem ficou em casa vendo tudo pela televisão acompanhou melhor aos acontecimentos.
- Eu sabia que a segurança aqui seria reforçada e acho isso muito certo. Mas acredito que poderiam colocar mais telões para nós que não fomos convidados. Nós também queremos participar das homenagens de algum modo.
Porém, a diferença entre o clima da área reservada e da zona livre para o público não estava apenas na proteção dos policiais. No Marco Zero, estavam aqueles que perderam mais durante os ataques, além de bombeiros e policiais de outras partes do mundo, que foram prestar homenagem a seus colegas mortos. De um lado ocorreu uma cerimônia fúnebre - marcada pela emoção e o luto. Do outro, um carnaval bizarro.
Fonte: R7